sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Argentina IV

44º Dia - 08 de março de 2014 - Rio Gallegos a Rio Grande/Argentina

Levantamos por volta das sete sem muita coragem para enfrentar mais um dia de frio.
Depois do farto café, preparamos as motos para continuar a viagem.
Quando fui dar partida na minha GS, as luzes do painel mal acendiam.
Pensei: "Tô ferrado aqui no extremo sul da América!"
Duas tentativas e nada da moto pegar.
Mas como já tive uma Boulevard que por duas vezes apresentou problema semelhante, já estava "maceteado".
Desmontei porte da carenagem até chegar na bateria. Removi-a e logo vi que estava completamente seca. Nem sinal de água!
No dia anterior tinhamos abastecido próximo do hotel e o Paulo foi até o posto da YPF onde comprou uma garrafa de solução de bateria.
Com cuidado, enchi a bateria e a recoloquei no lugar, prendendo os cabos aos bornes.
Dei partida e a danada pegou de primeira. Tô ficando bom nisso kkkk!
Mas ficou encucado. Como pode secar uma bateria com menos de seis meses de uso?
Lá fora o vento uivava e a coragem de abrir as portas da garagem era quase nenhuma.
Mas viajar era preciso e partimos.
80 quilometros depois já estávamos na fronteira com o Chile.
Ué, eu não estava indo para o Ushuaia no sul da Argentina?
Calma, eu também explico: Você roda, roda pela Argentina. Sai da Argentina e entra no Chile. Roda, roda e sai do Chile entrando na Argentina de novo para só então ir para o Ushuaia.
Complicado? Nada.

Sim, voltando à fronteira.
Aqui as aduanas e imigrações também são integradas, oque significa dizer que você passa direto pelo prédio argentino e vai até o chileno. Lá você faz a saida da Argentina e entrada no Chile. Na volta, você faz o procedimento no outro prédio.
Então, entregamos os papéis para os funcionarios argentinos darem a saida e logo fomos à outros guiches para dar entrada no Chile. Lá, nos fizeram preencher um documento atestando que não levavamos nenhum idem de origem vegetal ou animal, lembrando que os motos seriam revistadas antes de entrar. Se algo fosse encontrado, a multa era salgada.
Quando já estávamos subindo nas motos, o Paulo lembrou que tinha uma embalagem com salame fatiado guardada em um dos baús da moto. O jeito foi comer tudo para não ser multado.
Disfarçando o bafo, passamos sem problema pela revista e entramos no Chile.
Alguns quilometros depois, paramos para nos despedirmos. O Paulo ia seguir para Punta Arenas no Chile e eu tomaria outra rodovia para o Ushuaia na Argentina.
Poucos quilometros depois eu cheguei ao Estreito de Magalhães (já ouvi falar desse lugar em minhas aulas de história lá pelos anos 70). Trata-se de um canal por onde navios costumam passar do Atlântico para chegar ao Pacífico.
Parei próximo da rampa de descida e enquanto esperava o ferry retornar da travessia, fiz um lanchinho básico em um restaurante próximo, mais para fugir do frio e do vento do que propriamente por fome.
Pedi ao caixa onde comprava o ticket para o ferry e ele me disse que cobrariam a bordo.
Uma hora depois embarquei a moto no ferry junto com vários caminhões e veículos menores. Atravessamos o Estreito de Magalhães em vinte minutos e deixei o navio sem que alguém viesse cobrar a passagem.
Com pressa, continuei a viagem e receoso pois logo depois sabia que ia enfrentar o temível rípio, uma espécie de seixo rolado que jogam sobre a estrada e, nem sempre compactam.
Cheguei em Cerro Sombrero e o GPS indicava para tomar a estrada à esquerda, sem entrar na cidade.
E assim fiz para logo depois dar de cara com o rípio.
Tinha a informação que seriam uns 90 quilometros de tormento.
Parece que tinham espalhado o seixo por aqueles dias e as pedras ainda não estavam compactadas.
Tinha trechos que era difíl ficar sobre a estrada.Por váris vezes, cruzei com carros pela contramão onde era melhor para rodar. Velocidade?? Nem pensar em andar a mais de 40 por hora.
E assim, quase quatro horas depois, venci os 120 km (e não os 90 que me informaram) e, mais quebrado que arroz de terceira, cheguei à San Sebastian, ainda no Chile.
Na fronteira, novamente fiz o trâmite de papéis e sai do Chile, regressando ao outro pedaço da Argentina.
Segui mais cinco quilometros de rípio até chegar em San Sebastian, agora Argentina.
Reabasteci no único posto, bem ao lado do Oceano Atlântico, com um vento querendo jogar a moto no mar.
Poucos minutos depois já estava de novo na continuação da Ruta 3 para chegar em Rio Grande, oitenta quilometros depois.
Logo na entrada da cidade, vi uma grande quantidade de monumentos militares em homenagem aos combatentes da Guerra das Malvinas. São aviões, equipamentos de artilharia, dentre outros.
Rio Grande era o local mais próximo das ilhas e se tornou a principal base militar do conflito com a Inglaterra pela posse das Ilhas Malvinas como os argentinos as chamam ou Falklands, como querem os ingleses.
A batalha durou pouco tempo e foi vencida pelos ingleses.
Procurei um hotel pois a noite se aproximava e não daria para chegar hoje ao meu destino final.
Atualizando as informações, já são 18.080 quilometros.

45ºDia - 09 de março de 2015 - Rio Grande ao Ushuaia/Argentina

Acordei cedo ante a expectativa de chegar ao Ushuaia, a Tierra del Fuego, El Fim del Mundo, afinal, faltavam pouco mais de 200 quilometros.
Tomei café e fui preparar a moto. Apesar de várias peças de roupa por baixo da calça e jaqueta de cordura, continua frio. Tenho usado incluive a cada de chuva que evita que o vento frio penetre na roupa. Onde vim me meter! A menor temperatura onde moro deve ser de 20 graus. Hoje deve estar fazendo uns sete ou oito graus por aqui.
Ao voltar, deu por falta da chave do quarto. Procurei e retornei até onde estava a moto e nada.
Quando decidi ir até a recepçao para comunicar o extravio, a moça disse que tinham encontrado no estacionamento.
Tá vendo esse hotel ai?
Pois é, fique em um mais barato na frente dele rsrsr.
Deixei Rio Grande ainda olhando alguns monumentos militares.

Com o frio aumentando, cheguei em Tolhuin. Havia uma blitz da policia mas não me pararam.

Entrei no primeiro posto que vi e reabasteci a moto. Claro que não podia faltar um bom café para aquecer os ossos.
Tô quase lá.

Antes de chegar no Ushuaia, a rodovia sobe e leva para o Passo Garibaldi, acredito que uns mil metros acima do nivel do mar. Quantas paisagens espetaculares. Lagos imensos, montanhas com picos cobertos pela neve. Impossível não parar para tirar mais fotos. Apesar do frio de lascar, estou me divertindo muito.

Comecei a descer e logo depois avistei meu objetivo: Cheguei ao Ushuaia, o desejo de muitos e conquista de poucos!
Tinha feito contato com o Claudio Trifilio, outro amigo do JP e ele já me aguardava na entrada da cidade, junto ao portal.
Debaixo de um fina e gelada chuva, nos cumprimentamos e tiramos algumas fotos para registro.
Pouco depois eu já estava acomodado no Hotel Ushuaia, um quatro estrelas com preço salgado mas merecido.

Combinei sair com o Cláudio mais tarde.
Acabei cochilando com o calor do quarto e quando acordei, fui até o estacionamento em busca de alguns objetos.

Quando vi a moto coberta de neve, liguei para o Clàudio e disse que nosso passeio ficaria para o outro dia.
Tá loco. Lá fora tá tão frio que congela até pensamento!
Fecho assim a primeira etapa da viagem com 18.300 quilometros rodadas desde Boa Vista, Roraima, passando pela Guiana, Suriname, Guiana Francesa, costa brasileira, Paraguai, Uruguai e Argentina.

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