segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Argentina VI

50º Dia - 14 de março de 2014 - Cmte. Luis Piedra Buena a Sarmiento/Argentina

Hoje preciso recuperar parte da quilometragem que esta atrasada pois tenho data para chegar em casa.
Deixei Piedra Buena por volta das oito da manhã subindo pela Ruta 3.
Parei em Puerto San Julián somente para reabastecer e voltei para a estrada até Jaramillo.
As 14 horas já estava em Caleta Olivia, terra de muito petróleo na Argentina.
Para chegar em Comodoro Rivadavia foi um pulo.
Ali deixei a Ruta 3 e tomei a Ruta 26 à esquerda para chegar em Sarmiento por volta das 17 horas e com pouco mais de 800 quilometros rodados.

Ainda na rodovia, encontrei um Posto Petrobrás (tem muitos na Argentina) e entrei para reabastecer.
Enquanto calibrava os pneus da moto, uma frentista de certa idade me pediu se eu tinha vindo para o encontro de motos.
Falei que não mas como ia pernoitar na cidade......
Ela me disse que o passeio seria as 17h30 e mais tarde o encontro seria em um parque de exposições da cidade.
Agradeci e entrei na cidade.
Para minha surpresa, quando entrei na principal avenida, estavam passando as motos do encontro.
Nem pensei duas vezes e me juntei ao grupo.
Pararam em uma praça onde um grupo de dança se apresentava.
Devia ter umas quarenta motos e vários motociclistas vieram me cumprimentar.
O encontro virou "internacional" com a minha presença kkkk!
Me convidaram para o evento à noite e me despedi indo em busca de um hotel.
Por volta das 19h, deixei o hotel e fui ao local do evento onde paguei a entrada e recebi um certificado de participação no que eles chamam de Moto Asado. Além de um adesivo, me deram também um número para participar do sorteio de brindes.
O frio estava demais e se não bastasse isso, despencou uma chuva torrencial.
Nos abrigamos sob uma cobertura pequena e, enquanto a conversa fluia, regada a cerveja servida em copos plástico de um litro, sem exagero.
Mas eu na verdade tava de olho na churrasqueira. Lá, alguns cordeiros patagônicos estavam sendo assados.

(Foto do blog Uma Familia na Patagônia)
Não quis correr o risco de molhar a câmera e não à levei para o evento. Me arrependi mas era tarde.
Não pode provar esta iguaria argentina no Ushuaia mas não ia perder a chance agora.
Veio a hora do sorteio e a senhora que comandava remexeu vários papéis em um saco plástico perguntando que número queriam.
Eu, embalado pela cerveja, não hesitei e gritei: ocho quatro!!
Advinhem que número saiu primeiro? Ele mesmo... oitenta e quatro. O meu número kkkkk.
Ganhei uma lata de lubrificante de corrente (que bom pois o meu estava acabando) e uma balaclava muito boa.
Acho que foi a primeira vez que ganhei algo em sorteio.
Logo depois começaram a servir o cordeiro. Mas como cortaram em vários pedaços para depois servir, rapidinho esfriou e o sebo lambuzou os beiços.
Resolvi me posicionar perto da churrasqueira e ai a coisa melhorou com a carne quentinha.
Meu amigo Osmar Becher de Camboriú me deu a dica que Sarmiento abrigava o Bosque Petrificado.
O vale de Sarmiento é a única região fértil numa área de estepe patagónica onde se vêem muitos equipamentos de petrolíferas. O rio Senguer e os lagos Musters e Colhué Huapis fertilizam o vale e permitiram o desenvolvimento da pequena cidade com pouco mais de 15 mil habitantes.
A madeira petrificada também conhecida como calcedônia ou madeira silicificada. A fossilização acontece com a transformação da madeira em rocha através da mistura de sílica (quartzo). Para que isso aconteça, é preciso que o ambiente tenha água para que os poros existentes na madeira absorvam a solução aquosa rica em silica e assim da-se o processo de vitrificação da madeira, impedindo o apodrecimento. É um processo lento. Segundo estudiosos, as árvores petrificadas daqui, tem mais de 60 milhões de anos.

(Foto retirada do blog Viajar entre viagens)
O bosque petrificado fica a uns 30 km da cidade, onde 20 deles são percorridos por vias de terra.
Decidi não visitar o local.
Conheci o Norberto e a Norma, um casal nota dez que me deram toda a atenção durante minha permanência.
Gracias hermanos.
Lá pela meia noite me despedi dos novos amigos e, mesmo com chuva, voltei ao hotel para dormir.
Cheguei a 20.550 quilometros e os pneus dão sinal de que precisam ser trocados. O traseiro rodou nove mil e o dianteiro já chegou a 32 mil quilometros.

51º Dia - 15 de março de 2014 - Sarmiento a Bariloche/Argentina

Uma turma do meu moto clube estão viajando também pela Argentina.
Hoje o grupo esta em Mendoza, depois de visitar o Atacama.
Mantive contato com eles e disse-lhes que se me esperassem, eu subiria pela Ruta 40 até Mendoza.
Contudo, como estavam com pressa para chegar em Buenos Aires, não puderam me esperar.
Desci então sair da Argentina para o Chile via Bariloche.
Deixei a cidade e logo passei por La Puerta del Diablo, nome nada sugestivo para quem a partir deste ponto toma a Rua 40 com destino ao norte.
A Ruta 40 alterna trechos com asfalto e outros com cascalho ou rípio.
Um dos pedaços por onde passei, já estava bem compactado e equipes de trabalho preparavam a via para receber o asfalto.
Logo, logo, o rípio da Ruta 40 deixará de existir e com isso, a estrada perde um pouco do desafio de ser percorrida.
Em um dos vários desvios, no meio do nada, encontrei dois motociclistas com suas GS 800 com placas brasileiras.

Estavam parados e parei também para ver se precisavam de algo.
Me disseram que só estavam descansando. Nos apresentamos. Um deles era norte americano que comprara um BMW no Rio de Janeiro e estava rodando pela América acompanhado do Gustavo, motociclista carioca.
Como nosso roteiro era o mesmo nos próximos duzentos quilometros, seguimos junto até Tecka, onde reabastecemos e almoçamos.
Olha, a carne era um espetáculo. Não sei se era a fome, mas acho que nunca tinha comido um churrasco tão bom.
Meio sonolento pela farta refeição acompanhada de coca cola de um litro, deixamos a cidade, continuando a viagem pela Ruta 40.
Como os dois seguiriam para Esquel no Parque Nacional Los Alerces, nos separamos uma hora depois.
Passei por pequenos e simpáticos povoados.


Continuei minha viagem até Bariloche. Tinha visto várias fotos da cidade coberta pela neve deste que é um dos principais pontos turísticos da Argentina.
Passando pelo KM 1962 não pude deixar de tirar uma foto do ano do meu nascimento rsrs...


Imaginem minha decepção quando cheguei. Logo na entrada da cidade, do lado esquerdo da Ruta, um lixão a céu aberto, com urubus em quantidade e sacos plásticos voando para todo lado. Enfim, muita sujeira.
Logo depois, uma favela com barracos de madeira e lonas plásticas. Imagino que seja a casa de catadores.
Cenário nada bonito.
Como não é época de neve, não vi atrativos na cidade. Apenas um imenso e bonito lago na frente da cidade.
Já escurecendo, procurei um hostal e me acomodei por 250 pesos, saindo apenas para jantar nas próximidades.



domingo, 29 de novembro de 2015

Argentina V

46º Dia - 10 de março de 2014 - Ushuaia/Argentina

Logo cedo o Cláudio já me esperava no hotel para conhecermos a região.
Saimos em direção ao Parque Nacional Tierra del Fuego. Logo na entrada o asfalto acaba na Ruta 3 e o pavimento volta a ser rípio, porém bem compactado.

Cortesia do Claudio, a entrada de 80 pesos no Parque valerá a pena.
A principio fomos até a Ensenada Zaratiegui onde pude ver as árvores que crescem inclinadas pela ação constante dos ventos.
Ao lado está o Correio do Fim do Mundo, uma pequena construção sobre um pier onde funciona uma unidade postal.

Aproveitei e adesivei o local. Quase não encontrei espaço de tanto adesivo afixado ali.
Depois aproveitei para comprar um postal para enviar à família em Roraima.
Para posteriadade, pedi ao senhor de barba branca que trabalha ali há muitos anos que carimbasse meu passaporte com o selo do Correio do Fim do Mundo.

Famos tomar um café em um aconchegante restaurante e lá fora começou a nevar com temperatura de 5º.
Partimos então para a Bahía de Lapataia, onde termina a famosa Ruta 3 com seus 3.079 quilometros.

A neve aumentou e foi dificil tirar boas fotos. Ainda assim, o registro foi feito.
Voltamos e percorremos a cidade em busca de alguns souvenirs.

Comprei alguns adesivos e botons além de várias camisetas.
De volta ao hotel, combinei com o Cláudio o jantar na casa do Oscar, um motociclista gente boa demais.
Lá, à noite, conheci sua família e o Renato Lopes, motociclista gaúcho de Santa Maria que estava acompanhando alguns amigos em mais uma viagem ao Ushuaia.
Tive oportunidade de ler um dos livros do Renato que foi de grande valia para o planejamento da minha viagem motociclista.
Bom vinho e churrasco de primeira e a conversa se prolongou noite adentro.

47º Dia - 11 de março de 2014 - Ushuaia a Rio Gallegos/Argentina

Sempre a disposição, o Claudio estava no hotel para nos despedirmos. Era hora de partir outra vez, agora retornando do Fim do Mundo.

Ele me acompanhou ate a saída da cidade onde nos despedimos.
Gracias amigo Claudio Trifilio. Nos vemos en la carretera!

Logo na saída percebi que a fina chuva do dia anterior aliada ao frio da madrugada formaram uma fina camada de gelo.
Sobre o asfalto, isso é conhecido como gelo negro, um perigo para quem está dirigindo ou pilotando.
Por precaução, esperei passar duas carretas carregadas com conteineres e fui atrás.

A passagem pelo Passo ou Paso Garibaldi foi espetacular novamente e desta vez com muita neve.
Nem as luvas próprias para o frio nem o aquecimento das manoplas da moto foram suficientes para segurar o frio. Tive que apelar para duas sacolas plasticas como forma de minimizar o frio nas mãos.
Logo depois, já descendo a montanha, o clima melhorou e pude acelerar em direção à Rio Grande e depois San Sebastian.

Quase na fronteira, parei para novo reabastecimento. Porém, estavam descarregando uma carreta de combustível e tive que esperar quase uma hora. Neste meio tempo chegaram outros tres motociclistas que também tiveram que esperar pois combustível a partir daqui, só em Cerro Sombrero há 130 km.
O vento estava terrível e quase tombava as motos. Tivemos que protege-las, escondendo atrás do escritório do posto de gasolina.
Enquando esperava, um café e outra empanada para aquecer o estômago.
Liberado o abastecimento, segui em direção ao complexo fronteiriço e diz o trâmite rapidinho. Algumas máquinas estavam trabalhando entre as duas aduanas, sinal de que logo teremos asfalto neste trecho.
Uns dois quilometros depois da aduana chilena, tomei o caminho a esquerda que leva a Onaisin. Segundo me informaram no Ushuaia, este trecho, apesar de ter dez quilometros a mais, está muito melhor para rodar.
E assim foi e pude aumentar a velocidade para uns 60 km/h. No entroncamento de Onaisin tomei à direita para Cerro Sombrero e logo depois apareceu o asfalto.
Como estava em obras, tive que ir contornando durante vários quilometros. Ainda assim não resisti e apesar das pedras colocadas para impedir o tráfego sobre o pavimento, andei uns vinte quilometros sobre o asfalto novinho.
Passei por Cerro Sombrero sem me deter e cheguei ao Estreito de Magalhães onde uma imensa fila de veículos se formara.

Levei a moto até próximo da rampa e fui informado que devido às más condições metereologicas, tinham suspendido a travessia do ferry. Se melhorasse, ele voltaria a operar. Do contrário, só no outro dia.
Esperei umas três horas e enquanto isso fiz novos amigos motociclistas argentinos.
Enquando nos protegiamos do frio, atrás de um ônibus, tomamos várias cuias de chimarrão.
Finalmente o ferry chegou e logo estávamos à bordo.
Enquando fazíamos a travessia, ouvi a conversa dos argentinos dizendo que teriam que pernoitar na estrada pois um deles não tinha gasolina suficiente para chegar em Rio Gallegos. E quando digo na estrada, é na estrada mesmo, pois não há hotel até lá.
Como sempre ando com gasolina reserva, pedi quanto faltava para ele chegar lá. Me respondeu que um litro seria suficiente.
Logo que descemos do navio, tirei um dos galões de tres litros e coloquei um pouco na minha moto, dando cerca de dois litros ao colega que, agradecido, me pagou dez pesos, mesmo que eu não quisesse receber.
Já era noite e pensei na grande quantidade de carros chegando ao mesmo tempo na fronteira. Subi na moto e larguei na frente.
Em Poucos minutos cheguei na fronteira e logo conclui a saída do Chile e nova entrada na Argentina. Contei até agora três entradas na argentina em menos de dez dias. Haja carimbo.
Enquanto ajeitava os papéis, os motociclistas argentinos chegaram mas não quis esperar por eles.
Precisa chegar em Rio Gallegos e ainda faltavam uns oitenta quilometros para rodar de noite.
Por volta das 21 horas cheguei em Rio Gallegos e me hospedei no mesmo hotel que tinha ficado anteriormente.
A quilometram aumentou para 18.900 e o vento não dá sossego.

48º Dia - 12 de março de 2014 - Rio Gallegos a El Calafate/Argentina

O dia de hoje será destinado a conhecer o Glaciar Perito Moreno em El Calafate.
Um fato curioso: quando eu estava planejando a viagem, pensei que o Glaciar Perito Moreno ficava dentro do Parque Nacional Perito Moreno na cidade de Perito Moreno. Parecia lógico né?

Mas não é. Na verdade o Glaciar Perito Moreno fica no Parque Nacional Los Glaciares próximo da cidade de El Calafate, 600 quilometros abaixo da cidade de Perito Moreno, vindo pela Ruta 40.
E o melhor caminho para chegar a El Calafate é saindo de Rio Gallegos com asfalto até lá. O único problema é mais uma vez o vento que agora "te pega quase de frente, pelo lado esquerdo".
Os guanacos estão por toda parte. Geralmente um macho e quatro ou cinco fêmeas. A cerca das propriedades de criadores de ovelha não dificultam em nada o trânsito dos bichos.

Tendo deixado Rio Gallegos por volta das nove horas passei por Esperanza a 112 km e depois de mais 180 cheguei a El Calafate.

O trecho de quase 300 quilometros é desértico e com alguns belos lagos esverdeados.Ao longe se avista a Cordilheira dos Andes com seus picos cobertos pela neve.
Em El Calafate reencontrei o Paulo Stangler que, tendo passado por Punta Arenas e pelo Parque Nacional Torres del Paine, estava na cidade e continuaria subindo pela Ruta 40.
Ele já estava instalado em uma hospedaria, acampado em sua barraca. Eu preferi procurar um hostal e logo depois já tinha localizado um bem modesto e com quatro beliches no quarto.
Dei um giro pela cidade para almoçar em companhia do Paulo. Depois fui descansar pois a fadiga da viagem era grande. Não é fácil rodar mais de 600 km todo dia.

49º Dia - 13 de março de 2014 - El Calafate - Glaciar Perito Moreno - Rio Gallegos/Argentina

Oito da manhã eu já estava pronto e percorri uns 40 quilometros até chegar ao Parque Los Glaciares onde paguei 90 pesos pelo ingresso.

Entrei e rodei poucos quilometros quando avistei o enorme bloco de gelo, conhecido em todo o mundo.
Que vista fantástica. Parei, tirei várias fotos e continuei até o local onde uma van transporta os visitantes.

Optei por fazer uma caminhada de quase um quilometros pelas escadarias e plataformas que margeiam o lago até chegar de frente ao glaciar, enquanto ouvia o barulho do movimento do gelo sendo comprimido contra as rochas.
O glaciar é bloco de gelo de 5 km de comprimento e quase setenta metros de altura sobre o nível do lago.Ele avança lentamente empurrado pelo vento e ondas.Com o lento movimento ele vai se comprimindo, tentando passar pela garganta rochosa se aproximando da terra firme. Quando isso acontece, forma uma ponte de gelo. Todos torcem e esperam que aconteça, enquanto estão ali, o espetáculo imprevisível de seu desabamento com um estrondo.
Em El Calafate, no Estado de Santa Cruz, é possível contratar excursões até as passarelas do Glaciar Perito Moreno. As caminhadas sobre o Perito Moreno são uma opção tradicional e imperdível se a intenção for conhecer o gigante gelado. Mas também é possível contemplá-lo da água, através de navegações em catamarã para o frente norte e o sul.
Durante minha curta permanência, fui agraciado com a queda de um imenso bloco de gelo azulado que se desprendeu o maciço, caindo estrondosamente na água.
Fiquei maravilhado com tudo que vi ali.

Na volta, optei novamente pela caminhada, desta vez descendo do mirante mais alto pela sinuosa estrada até o local onde havia deixado a moto.
A volta para Rio Gallegos foi tediosa nos trezentos quilometros. Ainda pensei em subir pela Ruta 40 mas o trecho de 580 km de rípio me fez mudar de idéia.
Cheguei em Rio Gallegos por volta das 15 horas e decidi tocar mais um pouco até Cmte Luis Piedra Buena, 210 km retornando pela Ruta 3.
Eram 17h20 quando cheguei na cidade pequena, mas muito bem arrumada. Quando ia para o Ushuaia, tirei uma foto do alto da montanha.

Com um hotel simples custando 290 pesos, dormi cedo depois de aproveitar um litrão de Quilmes com um bife e batata (ou papas) fritas.
Com o vento pelas costas, já é possivel ver como melhorou o desempenho da moto além de baixar bastante o consumo de gasolina.
O odômetro marca 19.750 km nesta aventura.

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Argentina IV

44º Dia - 08 de março de 2014 - Rio Gallegos a Rio Grande/Argentina

Levantamos por volta das sete sem muita coragem para enfrentar mais um dia de frio.
Depois do farto café, preparamos as motos para continuar a viagem.
Quando fui dar partida na minha GS, as luzes do painel mal acendiam.
Pensei: "Tô ferrado aqui no extremo sul da América!"
Duas tentativas e nada da moto pegar.
Mas como já tive uma Boulevard que por duas vezes apresentou problema semelhante, já estava "maceteado".
Desmontei porte da carenagem até chegar na bateria. Removi-a e logo vi que estava completamente seca. Nem sinal de água!
No dia anterior tinhamos abastecido próximo do hotel e o Paulo foi até o posto da YPF onde comprou uma garrafa de solução de bateria.
Com cuidado, enchi a bateria e a recoloquei no lugar, prendendo os cabos aos bornes.
Dei partida e a danada pegou de primeira. Tô ficando bom nisso kkkk!
Mas ficou encucado. Como pode secar uma bateria com menos de seis meses de uso?
Lá fora o vento uivava e a coragem de abrir as portas da garagem era quase nenhuma.
Mas viajar era preciso e partimos.
80 quilometros depois já estávamos na fronteira com o Chile.
Ué, eu não estava indo para o Ushuaia no sul da Argentina?
Calma, eu também explico: Você roda, roda pela Argentina. Sai da Argentina e entra no Chile. Roda, roda e sai do Chile entrando na Argentina de novo para só então ir para o Ushuaia.
Complicado? Nada.

Sim, voltando à fronteira.
Aqui as aduanas e imigrações também são integradas, oque significa dizer que você passa direto pelo prédio argentino e vai até o chileno. Lá você faz a saida da Argentina e entrada no Chile. Na volta, você faz o procedimento no outro prédio.
Então, entregamos os papéis para os funcionarios argentinos darem a saida e logo fomos à outros guiches para dar entrada no Chile. Lá, nos fizeram preencher um documento atestando que não levavamos nenhum idem de origem vegetal ou animal, lembrando que os motos seriam revistadas antes de entrar. Se algo fosse encontrado, a multa era salgada.
Quando já estávamos subindo nas motos, o Paulo lembrou que tinha uma embalagem com salame fatiado guardada em um dos baús da moto. O jeito foi comer tudo para não ser multado.
Disfarçando o bafo, passamos sem problema pela revista e entramos no Chile.
Alguns quilometros depois, paramos para nos despedirmos. O Paulo ia seguir para Punta Arenas no Chile e eu tomaria outra rodovia para o Ushuaia na Argentina.
Poucos quilometros depois eu cheguei ao Estreito de Magalhães (já ouvi falar desse lugar em minhas aulas de história lá pelos anos 70). Trata-se de um canal por onde navios costumam passar do Atlântico para chegar ao Pacífico.
Parei próximo da rampa de descida e enquanto esperava o ferry retornar da travessia, fiz um lanchinho básico em um restaurante próximo, mais para fugir do frio e do vento do que propriamente por fome.
Pedi ao caixa onde comprava o ticket para o ferry e ele me disse que cobrariam a bordo.
Uma hora depois embarquei a moto no ferry junto com vários caminhões e veículos menores. Atravessamos o Estreito de Magalhães em vinte minutos e deixei o navio sem que alguém viesse cobrar a passagem.
Com pressa, continuei a viagem e receoso pois logo depois sabia que ia enfrentar o temível rípio, uma espécie de seixo rolado que jogam sobre a estrada e, nem sempre compactam.
Cheguei em Cerro Sombrero e o GPS indicava para tomar a estrada à esquerda, sem entrar na cidade.
E assim fiz para logo depois dar de cara com o rípio.
Tinha a informação que seriam uns 90 quilometros de tormento.
Parece que tinham espalhado o seixo por aqueles dias e as pedras ainda não estavam compactadas.
Tinha trechos que era difíl ficar sobre a estrada.Por váris vezes, cruzei com carros pela contramão onde era melhor para rodar. Velocidade?? Nem pensar em andar a mais de 40 por hora.
E assim, quase quatro horas depois, venci os 120 km (e não os 90 que me informaram) e, mais quebrado que arroz de terceira, cheguei à San Sebastian, ainda no Chile.
Na fronteira, novamente fiz o trâmite de papéis e sai do Chile, regressando ao outro pedaço da Argentina.
Segui mais cinco quilometros de rípio até chegar em San Sebastian, agora Argentina.
Reabasteci no único posto, bem ao lado do Oceano Atlântico, com um vento querendo jogar a moto no mar.
Poucos minutos depois já estava de novo na continuação da Ruta 3 para chegar em Rio Grande, oitenta quilometros depois.
Logo na entrada da cidade, vi uma grande quantidade de monumentos militares em homenagem aos combatentes da Guerra das Malvinas. São aviões, equipamentos de artilharia, dentre outros.
Rio Grande era o local mais próximo das ilhas e se tornou a principal base militar do conflito com a Inglaterra pela posse das Ilhas Malvinas como os argentinos as chamam ou Falklands, como querem os ingleses.
A batalha durou pouco tempo e foi vencida pelos ingleses.
Procurei um hotel pois a noite se aproximava e não daria para chegar hoje ao meu destino final.
Atualizando as informações, já são 18.080 quilometros.

45ºDia - 09 de março de 2015 - Rio Grande ao Ushuaia/Argentina

Acordei cedo ante a expectativa de chegar ao Ushuaia, a Tierra del Fuego, El Fim del Mundo, afinal, faltavam pouco mais de 200 quilometros.
Tomei café e fui preparar a moto. Apesar de várias peças de roupa por baixo da calça e jaqueta de cordura, continua frio. Tenho usado incluive a cada de chuva que evita que o vento frio penetre na roupa. Onde vim me meter! A menor temperatura onde moro deve ser de 20 graus. Hoje deve estar fazendo uns sete ou oito graus por aqui.
Ao voltar, deu por falta da chave do quarto. Procurei e retornei até onde estava a moto e nada.
Quando decidi ir até a recepçao para comunicar o extravio, a moça disse que tinham encontrado no estacionamento.
Tá vendo esse hotel ai?
Pois é, fique em um mais barato na frente dele rsrsr.
Deixei Rio Grande ainda olhando alguns monumentos militares.

Com o frio aumentando, cheguei em Tolhuin. Havia uma blitz da policia mas não me pararam.

Entrei no primeiro posto que vi e reabasteci a moto. Claro que não podia faltar um bom café para aquecer os ossos.
Tô quase lá.

Antes de chegar no Ushuaia, a rodovia sobe e leva para o Passo Garibaldi, acredito que uns mil metros acima do nivel do mar. Quantas paisagens espetaculares. Lagos imensos, montanhas com picos cobertos pela neve. Impossível não parar para tirar mais fotos. Apesar do frio de lascar, estou me divertindo muito.

Comecei a descer e logo depois avistei meu objetivo: Cheguei ao Ushuaia, o desejo de muitos e conquista de poucos!
Tinha feito contato com o Claudio Trifilio, outro amigo do JP e ele já me aguardava na entrada da cidade, junto ao portal.
Debaixo de um fina e gelada chuva, nos cumprimentamos e tiramos algumas fotos para registro.
Pouco depois eu já estava acomodado no Hotel Ushuaia, um quatro estrelas com preço salgado mas merecido.

Combinei sair com o Cláudio mais tarde.
Acabei cochilando com o calor do quarto e quando acordei, fui até o estacionamento em busca de alguns objetos.

Quando vi a moto coberta de neve, liguei para o Clàudio e disse que nosso passeio ficaria para o outro dia.
Tá loco. Lá fora tá tão frio que congela até pensamento!
Fecho assim a primeira etapa da viagem com 18.300 quilometros rodadas desde Boa Vista, Roraima, passando pela Guiana, Suriname, Guiana Francesa, costa brasileira, Paraguai, Uruguai e Argentina.