terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Chile

52º Dia - 16 de março de 2014 - Bariloche/Argentina a Temuco/Chile

Precisava fazer o seguro para entrar no Chile e parei em Villa La Angustura. Aqui praticamente todas as casas são feitas de madeira. Depois de procurar bastante, uma seguradora emitiu a apólice que me custou 540 pesos.

A região dos Andes que separa os dois países é protegida pelos Parques Nacionais Nanuel Huapi do lado argentino e Parque Nacional Puyehue do lado chileno.

Aliás, esta região tem vários parques nacionais.

Logo depois de deixar Bariloche, sai da Ruta 40 para tomar a rodovia que sobe a Cordilheira dos Andes pelo Paso Samore
a 1.321 metros de altitude e assim chegar ao Chile.

O trâmite foi meio enrolado pois estavam em obras na aduana e usavam conteineres como escritório.
Passei por uma rápida revistas na bagagem e recebi um ticket que não me informaram pra que serviria.
Duzentos metros depois havia uma guarita dos Carabineros, a Policia Chilena. O policial me pediu o ticket de liberação na aduana.
Lá vou eu descer da moto para abrir a mala. Tinha guardado a papelada, inclusive o ticket que me deram. Como era pista única, para não atrapalhar o trânsito, pedi ao policial autorização para estacionar a moto um pouco mais à frente, liberando a via.

As margens da estrada vi a destruição causada pelo vulcão que entrara em erupção no Chile há alguns meses e interrompera o tráfego área no Chile e Argentina.
As cinzas se espallharam por milhares de quilometros e às margens da rodovia todos as árvores tinham morrido. Também pudera. Havia quase um metro de altura de cinzas por todos os lados.
Estas cinzas possuem particulas de ferro, tipo limalha, e percebi o estrago que fazem quando mais tarde olhei a moto por baixo. O protetor do motor e o cavalete central estavam sem tinta em alguns lugares.
Eram aproximadamente meio dia quando cheguei em Osorno no Chile.
Tinha programado pernoitar aqui depois de trocar óleo, filtro e pneus da moto na concessionária BMW Moto Aventura.
Facilmente cheguei ao local e encontrei dois motociclistas brasileiros que já estavam de saída com suas GS 1200.
Na loja me informaram que para trocar o óleo, só liberariam a moto no outro dia.
Enquanto faziam o serviço, procurei nas imediações um hostal. Tinham várias pousadas, ou cabanas como dizem aqui. Mas com preços salgados demais.
Em uma delas me pediram 80 dólares, ou mais de duzentos reais. Desisti da idéia e voltei à oficina.

Sem trocar o óleo, cerca de tres horas depois, tendo gastado 300 dólares com pneus e filtro de óleo, deixei Osorno para fazer mais alguns quilometros. Posso rodar mais uns mil km com o óleo. Então vou trocar mais à frente.
A rodovia daqui é muito boa. Você não vê um buraco. Bem sinalizada, o único defeito é o pedágio que varia de 700 a 900 pesos a cada oitenta a cem quilometros rsrs. Aqui moto não tem vez e paga também.

Já escurecendo parei em Temuco para reabastecimento. A gasolina no Chile custa cerca de US$ 1 o litro. Aproveitei e pedi por uma pousada. Me indicaram uma nas proximidades. Era uma residência e a sra Verônica alugava alguns quartos a 40 dolares.
Tenho que me acostumar com o Chile. Aqui tudo é mais caro que outros países da América do Sul.
Tendo rodado só 500 km hoje, desmaiei e nem quis saber de jantar.
Somo ate agora 21.930 quilometros.

53º Dia - 17 de março de 2014 - Temuco a Santiago/Chile

Rapaz como faz frio por aqui.
Levantei meio desanimado com tanta neblina. Não dava para ver mais que 50 metros à frente. Não é a toda que na estrada tem placas com sinais, orientando sobre qual velocidade andar quando tiver niebla.

Tomei café com a família, paguei a diária e voltei à estrada pela Rodovia 5.

Passei por vários povoados pequenos. Outros maiores como Chillán, Talca, Curicó, Rancagua até chegar em Santiago.
Foram 650 quilometros de ótima rodovia e gastei 10 mil pesos só em pedágio. Isso dá uns 11 dólares, mas valeu a pena.
Na beira da estrada muitos pomares de pessego, peras e áreas imensas com plantio de uvas.

Em Talca decidi trocar o óleo da moto. Estacionei nos fundos do posto e tive que eu mesmo fazer o serviço. Um dos defeitos da G650GS é que ela tem dois reservatórios de óleo (o carter e um tanque alto para auxiliar no resfriamento do óleo).

Então para trocar, você tem que retirar o baú traseiro, retirar o banco e parte da carenagem parafusada para ter acesso ao local. Não bastasse isso, ainda tem que retirar o protetor do motor. Enfim, uma trabalheira danada.
Feito o serviço, voltei a rodar e o resto do dia foi tranquilo sem nenhum contratempo.

Cheguei em Santiago por volta das 17h30 com um trânsito infernal. Aqui não se respeita corredores e fiquei preso no meio do trânsito que não fluia para nenhum lado.
Enquanto a moto ligava o ventilador do radiador a cada dois minutos, pensei em cair fora dali.
Na primeira oportunidade, retomei a via expressa e vazei.
Adeus Santiago!
Rodei mais uns 80 quilometros e já escuro, cheguei em La Calera. Entrei na cidade e no primeiro semáforo, pedi a um motociclista onde podia conseguir um hotel.
Ele gentilmente me pediu que o acompanhasse. Fomos até o centro e lá consegui o hotel de um amigo dele por 30 mil pesos. A garagem do hotel ficava na outra quadra e me deram a chave para abrir o portão.
Mais tarde um bife com fritas para coroar mais um dia sem problemas.
O motociclista se chama Edgardo e é professor de artes marciais na cidade. Gracias hermano Edgardo.
Outros 730 quilometros foram percorridos hoje, totalizando assim 22.660 km.


54º Dia - 18 de março de 2014 - La Calera a Copiapó/Chile

Pela manha dei uma volta a pé pela centro e retirei a moto do estacionamento, deixando-a na frente do hotel.
Esperei os bancos abrirem e fui até o Banco Estado para cambir 200 dólares. Sem nenhuma burocracia, mesmo eu sendo estrangeiro.
Quando voltei ao hotel uma agente de trânsito com uma maquininha na mão esta tentando encontrar uma forma de obrigar este brasileiro a pagar o estacionamento.
Cinco minutos de conversa sobre as belezas do Chile e seu povo e ela me liberou.
Carreguei a moto e me mandei.
A partir daqui começo a rodar mais distante da Cordilheira e mais próximo do Oceano Pacífico.
As excelentes rodovias fazem render a viagem.
O Deserto do Atacama começa a mostrar sua cara.

De um lado o Oceano Pacífico e do outro uma imensidão de areia e pedras.
Depois de 300 quilometros na solidão da estrada, parei em Serena para um almoçar as margens do Pacífico.
Tirei um cochilo rápido. O sol inclemente te desidrata rapidamente e com isso vem o esgotamento físico.
Até agora não tive nenhum problema de saúde. Algumas dores pelo desgaste físico causado pelo vento, quando descia rumo ao Ushuaia e mais nada.

Eram 17 horas quando cheguei em Copiapó depois de exaustivo 840 km no dia.
Logo que você chega na cidade, a impressão que se tem é que a cidade foi construida dentro de um vulcão extinto. É paredão por todos os lados.
A 33 km desta cidade houve um acidente que ficou mundialmente conhecido quando mineiros ficaram dias soterrados na Mina San José, um local de exploração de cobre e ouro, de propriedade da Empresa Minera San Esteban
O soterramento dos 33 mineiros, ocorrido em 5 de agosto de 2010, foi considerado o pior acidente do país neste tipo de trabalho.
Os trabalhos de resgate começaram no dia seguinte, com a perfuração de um duto de ventilação. Um novo desmoronamento ocorreu dois dias depois, 7 de agosto, necessitando doravante de maquinaria pesada para concluir o resgate. Somente 17 dias depois os mineiros foram localizados com vida, intensificando-se o resgate.
A princípio foi perfurado um poço de alguns centímetros de diâmetro, para passagem de água e mantimento, o qual posteriormente foi alargado para poder abrigar a cápsula Fenix II com cerca de 5 metros de altura e 60 centímetros de diâmetro.
A cápsula possuia capacidade para abrigar somente um trabalhador com segurança, possuindo saidas na parte inferior e superior caso ficasse presa no duto.

Somente em 12 de outubro, 67 dias depois do acidente, os trabalhadores começaram a ser retirados um a um, em uma operação que durou dois dias.
Rapidinho consegui um hotel a 40 mil pesos. Pelo que percebi, ali ficavam muitos dos trabalhadores de passagem pela região.
Em Copiapó completei 23.500 quilometros rodados.
Amanhã o destino será Antofagasta e San Pedro de Atacama.
Então boa noite!


55º Dia - 19 de março de 2014 - Copiapó a San Pedro de Atacama/Chile

Mais um dia de viagem. Saí de Copiapó com o nascer do dia e como há poucas cidades no caminho e praticamente tudo que se vê é o Pacífico do lado esquerdo e o deserto do lado direito, enrolei o cabo.

Em alguns trechos tive que reduzir a velocidade por obras na rodovia ou pela areia trazida pelo vento.
Em dezenas de lugares vi grandes galpões de lona branca. Não sei o que eram mas eram muitos, alguns sozinhos e outros juntos. Estavam muito distante da estrada e não quis entrar para matar a curiosidade.
Durante quase toda a viagem, uma névoa vinda do oceano cobria a estrada e algumas vezes a visibilidade eram reduzida.
Pensei em pernoitar em Antofagasta mas a viagem rendeu.

Quando passei pela cidade, notei a grande quantidade de poeira, tornando a cidade amarelada e feia.
Imagino que sejam resíduos de mineiro pois o deserto daqui é rico, principalmente em cobre.
Aliás, há muitos lugares onde se vê grandes máquinas trabalhando na extração de minério.
Vi dezenas de camionetas vermelhas, que penso ser de mineradoras. Esses motoristas correm demais. Vi duas delas acidentadas.
Somente muito próximo, vi uma placa que indicava La Mano del Desierto, uma escultura em forma de mão saindo das entranhas da terra.
Andei uns trezentos metros por uma estrada de terra e areia até chegar ao monumento.

Para minha tristeza, estava tudo pixado. Nessa hora nos perguntamos: Como pode um ser humano fazer uma coisa dessas?
Quando cheguei a Calama, o sol ainda estava alto e decidi tocar mais 110 km até San Pedro de Atacama.

Chegando em San Pedro, uma placa indicava para tomar à direita. Contrariando o GPS entrei e ele acusou o erro. Continuei mais um cinco quilometros com o GPS mandando retornar. Só parei quando vi uma placa indicando o Paso Jama que é caminho para Argentina. Retornei e cheguei as 17h e fiquei surpreso com o que vi.

Muitas casas baixas construidas com pedras e cobertas com um mistura de barro e cimento, ruas estreitas, sem calçadas e muita, mas muita gente andando pelas ruas. Dezenas de hosteis, pousadas, locais para alugar bicicletas. Simpática na sua simplicidade.

Dizem que a população daqui é de duas mil pessoas mas sempre há o dobro disso de turistas estrangeiros na cidade.
Procurando um hotel, encontrei um com a bandeira do Brasil na porta.
Parei e fui falar com um jovem que me disse que a proprietária era brasileira.
Beleza então. Vou ficar por aqui mesmo no Corvatsch a 40 mil pesos a diária.
Depois de ajeitar as coisas no quarto, comprei um pacote turistico para visitar o Geiser del Tátio na madrugada do dia seguinte.
24.250 km é o acumulado até agora.

56º Dia - 20 de março de 2014 - San Pedro de Atacama/Chile

Por volta da quatro da madrugada fui acordado para fazer o passeio.
Um frio de lascar. Tive que colocar a segunda pele, a jaqueta e calça de cordura e a balaclava para aguentar.
Entrei na van onde já tinha cinco turistas de várias nacionalidades. Passamos em outras pousadas até que a van lotou.
Nos deslocamos por uma hora por estradas de cascalho no meio do deserto até chegar no local do vulcão adormecido.
Rápidas instruções do guia e fomos com o veículo até próximo do local onde esperariamos a água jorrar.
O Geiser del Tátio é um local sobre um vulcão. Várias fendas na rocha fazem com que fumaça, conhecida como fumarola, suba durante todo tempo.
A diferença de temperatura do magma e a água subterrânea fazem com que o líquido suba pelas fendas e "espire" a vários metros de altura.

Esse fenômeno só acontece de madrugada. Então você tem que chegar cedo rsrsr.
A temperatura ambiente estava ótima. Só oito graus negativos!!
É sair da van, tirar duas ou tres fotos e correr para dentro de novo.
Eu sou tão sortudo que hoje o geiser "não funcionou".
Paguei caro para ver a água espirrar. Peguei um frio danado e nada!! Sacanagem.
No local tem um piscina natural com água em temperatura de 35 a 37 graus. Lá dentro. Por que aqui fora é oito negativo.
Alguns malucos entraram na água. Eu não. Tava pensando: enquanto estiver ali dentro tá quentinho. Mas e quando sair?
Deixamos o local por volta das oito horas, decepcionados.
Passamos por um pequeno povoado indígena conhecido como Machuca onde aproveitei para comer uma brochetta.
Calma.... vou esplicar para que vocês não pensem besteiras.
Trata-se de um espetinho com carne de llama.

A carne era ótima mas o preço salgado. Uns oito reais pelo espetinho.
Comi também um pastel de queijo de leite de ....llama também.
Os artesanatos não atrairam minha atenção.
Um costume local: todos os casebres tem no alto da cumeeira uma cruz. Segundo dizem, é uma forma de garantir a proteção divina.
Deixamos o povoado e passamos por mais alguns locais sem muito coisa para ver a não ser cactos, pedras e mais pedras. Alguns animais nem se incomodam com nossa presença.
Pela ordem, a raposa que aqui é chamada de zorro, a vicunha e a llama.


Voltamos ao hotel.
Procurei um restaurante para almoçar, dentre as várias opções na cidade.
Vi várias GS e Triumph 1200, todas com placas brasileiras estacionadas na frente de um restaurante e entrei.
Sentei-me em uma mesa enquanto os motociclistas reunidos em outra mesa conversavam.

Pedi uma Austral, cerveja produzida na patagônia chilena e um bife com ovos e batata frita. O garçon informou aos outros motociclistas que eu também era brasileiro e me convidaram para sentar com eles.
Batemos papo durante alguns minutos e ao saberem que eu estava indo para a Bolívia, chamaram um amigo que estava lá fora.
Disseram-me que o sujeito tinha percorrido há dois meses o trecho que eu pretendia fazer e poderia me dar algumas dicas.
Não me recordo o nome dele (e nem quero lembrar).
Ele me disse que a estrada tinha "uns 400 quilometros" onde 70 deles seriam de terra. Agradeci as informações e aproveitei o resto da tarde para comprar alguns souvenirs, apesar do preço salgado.
Voltei ao hotel para estudar o roteiro do dia seguinte.
No meu mapa não aparece o trecho entre Calama a Olague no Chile. No mapa, a estrada começa em Estación Avaroa já na Bolívia e dali sobe pelo meio da Bolívia.
Quero visitar o Salar de Uyuni e não quero subir para Arica e atravessar o Peru para só depois voltar para a Bolívia. Isso daria uns 3.000 km a mais.
Mesmo que a estrada não apareça no mapa, ela existe. Não sei em que condições, mas existe.
Ou seja vou no "escuro".

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