quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Bolívia


57º Dia - 21 de março de 2014 - San Pedro de Atacama/Chile a San Cristobal/Bolivia

Eram 09 horas quando deixei San Pedro de Atacama.
Retornei pela rodovia asfaltada até Calama, a 120 km.
Ali decidi trocar o óleo da moto pois a troca anterior foi com óleo mineral e a quilometragem já estava no limite.
Parei em um posto da Copec pois vi o serviço de troca de óleo.
Enquanto aguardava a vez, abasteci a moto e pedi ao frentista que abastecesse os dois galões reservas.
Disse que aquele tipo de embalagem não era permitido. Só poderia abastecer se comprasse um recipiente da Copec.
Por dez dólares comprei o dito cujo com capacidade para dez litros e o enchi. Tive que amarrá-lo sobre a mala que ia na garupa.
Chegou minha vez e pedi ao rapaz se conhecia aquela moto para trocar o óleo. Ele disse que sim e que fazia isso com frequencia em motos de brasileiros.
Confiei e descidi fazer um lanche antes de enfrentar o deserto.
Quando voltei o sujeito ainda estava deitado debaixo da moto.

Perguntei o que estava acontecendo e ele disse que não estava conseguindo tirar a porca do carter.
Me ofereci para ajudar e quanto olhei a peça, não acreditei. O cara forçou tanto que a peça estava redonda.
Nem com alicate de pressão foi possível desrosquear.
Não tive outro jeito a não ser trocar somente um litro de óleo do reservatório superior. Não quis forçar o motor para jogar o resto do óleo para cima.
Pedi um litro de óleo e o rapaz trouxe um recipiente abrindo a tampa na minha frente. Suspeitei na hora pois não ouvi o estalido do lacre da tampa se rompendo.
Tinha certeza que ali tinha vários tipos de óleos misturados que tinham sobrado de serviços executados em outros veículos.
Disse que não queria aquele e ele fingiu não entender.
Apontei para a prateleira e mostrei qual eu queria. Ele contrariado não teve outra opção a não ser me atender.
Eu já tava puto por ele ter estragado o bujão do carter então não vem me enganar não!!
(logo eu que trabalhei 15 anos com combustíveis e lubrificantes rsrrs)
Chateado, parti.

Uma placa indicava a cidade de Ollague e entrei naquela rodovia. Rodei uns trinta quilometros no asfalto e de repente, sem nenhum aviso, apareceu o temível rípio. Uma camada generosa de pedras soltas, péssimo lugar para andar de moto.
Depois de uns vinte quilometros assim, o asfalto reapareceu. Quando estava tomando gosto no acelerador, o asfalto sumiu de novo. Era só um trecho de dez quilometros no meio do nada. Lá vou eu de novo no rípio, agora um pouco mais compactado.
Mais uns vinte minutos e novamente dou de cara com o asfalto.

Pô, estes engenheiros tão de sacanagem! Porque não fazem logo tudo junto?
Acho que rodei mais uns vinte a trinta quilometros e o asfalto desapareceu de novo. Tão de brincadeira!
O motociclista tinha me dito que seriam uns 70 km de terra e o resto de asfalto.
Pois bem, ele não reapareceu e passei horas rodando da areia, terra, cascalho. No meio do deserto sem ver uma alma.
Minto. Vi três que estavam consertando um trecho de ferrovia que atravessava a estrada no meio de um areial.
Cheguei no Pazo Fronterizo Ascotan e uma placa orientava como proceder. Achei que estivesse na fronteira e que teria que dar saída do Chile.

Com os papeis na mão fui conversar com o carabinero que estava em um conteiner. Este me disse que a fronteira era mais adiante e, todo empoeirado, subi na moto e aranquei.
Finalmente cheguei em Ollague, uma vila no meio do deserto.

Parei, comprei duas garrafas de água e comi um salgado enquanto conversava com a proprietária.
O vilarejo me lembrou aquelas cidadelas do velho oeste americano que a gente costuma ver nos filmes de bang bang.
Um amontoado de casas em três ruas, uma ferrovia do lado e muita poeira.
Pedi onde era a saída do Chile e prendi a garrafa de água sobre a mala.
Quando cheguei na aduana, tive que procurar a funcionária. Parece que não passa ninguém por ali há dias.
Dei a saída do Chile e rodei um quilometro até chegar na aduana boliviana, em Estación Avaroa onde uma cancela bloqueava a estrada.


Desci da moto e entrei na casa. Procurei e não apareceu ninguém. Saí da casa e vi um senhor sentado na sombra em uma casa próxima.
Fui até ele e perguntei onde estava o funcionário da imigração e aduana.
Apontando o dedo me mostrou uma casa há duzentos metros, de onde se ouvia uma música que, confesso não sei dizer o rítmo.
Estranhei mas tive que ir até lá.
Era uma escola e em uma das salas cerca de dez homens estavam bebendo cerveja. Vários deles, pra lá de Bagdá.
Cumprimentei a todos e pedi quem eram os funcionários.
Um deles se levantou mal humorado. Disse que precisava dar entrada na Bolívia.
A contragosto ele me acompanhou. Examinando os papéis, me pediu o seguro de terceiros.
Perguntei a ele onde eu poderia fazer o seguro naquele deserto e ele querendo complicar minha vida.
Falei da viagem, dei três adesivos para ele e prometi fazer o seguro quando chegasse na civilização.
Por fim ele me liberou, depois de ter passado por outra casa, onde fiz a imigração.
Tive a cara de pau de pedir a ele para me trocar pesos chilenos por bolivianos pois não tinham um níquel na moeda deles.
Ele topou! A moeda chilena é mais valorizada que a deles.
Liguei a moto e fiquei esperando alguém abrir a cancela. Não apareceu ninguém.
Tive que fazer eu mesmo e quando estava empurrando a moto para o lado boliviano, chegou um casal de canadenses também em uma moto. Estavam vindo do Uyuni. Eles também em uma G650GS.
Trocamos rápidas informações sobre a estrada e cada um tomou seu rumo. Ainda falei para ele se apressar senão o funcionário iria voltar para a escola.
Ah... a comemoração era porque a escola estava fazendo aniversário. Só não vi alunos lá.
Desde Calama, já tinha rodado 220 km e ainda faltavam 250 até o Uyuni.
Segundo o canadense, não tinha asfalto até lá. Fiz as contas e vi que meu "amigo" do Atacama ou se equivocou, ou mentiu que já tinha percorrido este trecho. Na verdade são perto de 480 quilometros,dos quais apenas uns setenta são asfaltados, em tres etapas do lado chileno. Ele me disse o contrário.
Paciência, já tou no meio do caminho. Vamos em frente.

Continuei debaixo de um sol escaldante e parei para reabastecer com os galões reserva.
Procurei a garrafa de água e não encontrei. Deve ter caido na estrada e não vi.
Depois de umas três horas passei por Culpina com o sol caindo no horizonte. Olhei o mapa e vi que não conseguiriam chegar em Uyuni naquele dia.
Resolvi entrão rodar mais uma hora até chegar por volta das 17 horas em San Cristóbal, um pequeno vilarejo de mineradores. Havia um único posto de combustível e o rapaz ficou feliz quando me viu.
Abasteci a moto e o totalizador da bomba não funcionava. Paguei 8,8 bolivianos por litro. Em reais, mais ou menos 6 contos o litro!!

Até permitiu que eu colasse na bomba de combustível,um dos meus adesivos da expedição. Assim o fiz ao lado de outros nove ou dez. Realmente não passa muita moto por aqui.
Arrumei um hotel simples, o San Cristobal Eco Iron Hotel e, como não tinha bolivianos, a moeda deles, tive que desembolsar 30 dólares pela estadia e jantar.

No jantar pedi um frango com arroz, batata frita e salada. Rapaz, como esse povo gosta de óleo.
Para rebater, pedi uma cerveja Huari. Pensa numa cerveja pra nunca mais tomar! Aliás, é a segunda vez que tomo cerveja ruim na Bolívia. Em 2010 estive em Cobijas, fronteira com o Acre e lá também tomei uma cerveja ruim demais. Só lembro que a latinha era avermelhada.
O odômetro da moto registra 24.830 km até o momento nesta viagem.
Vou dormir porque amanhã ainda terei 100 km de areia pela frente até Uyuni.


58º Dia - 22 de março de 2014 - San Cristobal a Salar de Uyuni/Bolivia

Levantei meio dolorido. Acho que foi a tensão de pilotar várias horas em terreno hostil. Confesso que andar na terra não me agrada, principalmente, porque estou usando os pneus para asfalto. Se tivesse uns pneus tipo biscoito, acredito que andaria melhor.
Deixei San Cristóbal por volta das nove horas.
Daqui até a cidade de Uyuni serão mais duas horas de viagem se o terreno não piorar.
Durante o deslocamento percebi que o tráfego de caminhões é mais frequente neste trecho e quando vêm em sentido contrário ao meu, levantam uma nuvem de poeira que me obriga a reduzir a velocidade e as vezes até parar pois não se ve nada à frente.
Já tinha feito isso umas oito a dez vezes e comi muita poeira.
Quando estava a 45 quilometros de Uyuni, outro caminhão vinha em sentido contrário e mais poeira.
Reduzi a velocidade para uns 40 km/h e fomos nos aproximando.
Imaginem o tamanho do susto quando, a uns vinte metros de nos encontrarmos, saí uma camioneta do meio da poeira, ultrapassando o caminhão.
A estrada era estreita e não pensei duas vezes. Tirei a moto para a direita enquanto os dois passavam.
Não tinha outra alternativa, ao desviar a moto para não bater de frente com a camioneta, desci um barranco de uns dois a três metros de altura.
Ao "imbicar" a moto, instintivamente segurei no freio dianteiro.
Não deu outra. Capotei.
A moto ficou com os dois pneus pra cima enquanto eu caia ao lado.
Ainda não recuperado do susto, olhei para a estrada e os dois veículos já iam longe.
Por sorte, só bati o capacete no chão e fiquei meio zonzo.
Levantei e desvirei a moto pois o galão de gasolina que comprei em Calama se rompeu e estava derramando gasolina.
Ai deu para ver o estrago.
Carenagem lateral trincada, bolha e um pisca quebrado, farol trincado, retrovisores quebrados e o GPS também foi pro pau. Não bastasse isso, a câmera profissional que usava pendurada no pescoço também foi danificada.
Fiquei ali, sentado no chão uns vinte minutos pensando no que faria, sozinho no meio do nada.
Eis que chega uma SUV branca e um casal descem do carro para ver o que tinha acontecido.
Expliquei e pedi se tinha como pedirem um guincho (ou grua como é conhecida aqui). Me informaram que não havia em Uyuni.
No local do acidente não havia sinal de celular e eles disseram que seguiriam mais alguns quilometros e pediriam para alguém providenciar uma camioneta para levar a moto.
Agradeci e eles partiram.
Esperei quase uma hora e nada.
Liguei a moto e decidi seguir devagar pois não podia ficar ali debaixo do sol e sem água.
Ajeitei as coisas sobre a moto e comecei a andar por fora da estrada até encontrar uma subida que me permitisse voltar à pista.
Andei uns quinhentos metros e um carro em sentido contrário começou a dar sinal de luz.
Parei a moto e o motorista se identificou querendo saber se era minha moto que precisava de socorro. Disse que sim e procuramos um local que permitisse carregá-la no meio do deserto.
Depois da queda estou sentindo tontura e não vou me arriscar.
Foi um sacrifício botar a moto na caçamba da camioneta. Afinal estamos na Cordilheira dos Andes e o ar rarefeito te tira as forças.
Seguimos em direção ao Uyuni e quando chegamos, a única oficina de motos estava fechada.
Pedi que me deixasse em um hotel e no outro dia iriamos correr atrás do conserto.
Fomos até a casa dele, muito modesta por sinal, onde ele deixou a camioneta com a moto em cima e trocou de veículo, pegando seu táxi para me levar ao hotel.
Pedi que voltasse no outro dia para resolvermos o problema.

59º Dia - 23 de março de 2014 - Uyuni/Bolivia

Passei uma noite muito mal. Tontura com ânsia de vômito frequente. Cheguei a pensar que tinha sofrido alguma lesão na cabeça.
Se não melhorasse, teria que buscar um médico.
No outro dia, um pouco melhor famos levar a moto até a oficina.
Chegamos lá e me espantei com o ambiente.
Umas vinte motos velhas, desmontadas no pátio, sem nenhum cuidado. Tinha uma Java que devia estar a tanto tempo ali que nasceu até uma pequena árvore ao lado dela.
Mas só tinha aquele lugar. Desembarcamos a moto e pedi o que ele poderia fazer.
Peças de BMW aqui nem sonhando.
Pediu que comprasse retrovisores e um farol ching ling para adaptar.
E assim fiz. Deixei com ele e pedi para fazer o que pudesse e que eu voltaria no outro dia. Voltei ao hotel ainda muito mal.
Queria ir de moto mas com o acidente desisti de visitar o salar de Uyuni. Vai ficar para outra oportunidade.


60º Dia - 24 de março de 2014 - Uyuni a Oruro/Bolivia

Hoje completam-se dois meses de viagem. Sai de Boa Vista, Roraima no dia 17 de Janeiro e com 30 dias fiz uma pausa de uma semana em Foz do Iguaçu para voltar a Roraima e resolver assuntos da empresa.

Um pouco melhor, decidi seguir viagem. Fomos até a oficina e o mecânico tinha dado um jeito. Soldou os suportes dos retrovisores e improvisou um suporte para o farol. Contudo a carenagem precisava ser presa de alguma forma.
Usei minha fita silver tape e dei um jeito.
Paguei o conserto ao mecânico enquanto ele tirava mais um punhado de folhas de coca do bolso e levava à boca. Deve ter feito isso uma dezena de vezes no pouco tempo que fiquei ali.
Acertei também toda a despesa com o taxista e agradeci imensamente a ele pela ajuda.
Pilotando, voltei ao hotel para carregar a tralha da moto.
O hotel não tinha lavandeira e no dia anterior tinha pedido à camareira para fazer um extra e lavar minha calça e jaqueta de cordura pois estavam muito sujas. Também pudera. Em 60 dias lavei elas no Suriname, em Macapá, em Foz do Iguaçu e depois..... depois não lavei mais até aqui. Já estavam sujas e com o tompo piorou.
Também tinha pedido a ela que lavasse meu par de luvas, tudo para o dia seguinte.
Quando ela trouxe a roupa tive que rir. Esqueci de dizer para ela que as luvas eram impermeáveis. Ela lavou e pendurou com os dedos para baixo. Resultado: elas estavam cheias de água.
O jeito foi colocar as luvas molhadas.
Deixei a cidade e logo depois tinha um pedágio.
A moça me cobrou cinco bolivianos e disse que logo à frente a rodovia estava bloqueada por estudantes universitários que reivindicavam melhorias no ensino.
Ainda assim resolvi seguir. Quando cheguei no alto da rodovia, vi o bloqueio.
A rodovia esta chega de pedras num trecho de 300 metros e onde não havia como desviar pelas laterais. De um lado era um paredão e do outro um precipício.
Já haviam carros parados dos dois lados do bloqueio. Fui conversar com os estudantes para entender o que se passava e qual era a previsão de liberação da pista.
Me disseram que as 11h aconteceria uma reunião em Potosi e dependendo do resultado, poderiam ou não desbloquear.
E ali fiquei já pensando em voltar a Uyuni.
Logo depois chegaram três motociclistas. Um chileno, um canadense e um bulgaro. Também pararam e enquanto conversavamos, surgiu a idéia de furar o bloqueio se não liberassem a estrada.
Voltei a falar com o cabeça do protesto e me disse que ainda não tinha previsão. Apelamos para o bom senso deles e o chileno que tinha uma garrafa de vinho na mala se propos a entregá-la como "pedágio".
Voltamos a falar com estudantes e depois de alguns minutos de conversa a garrafa desapareceu nas mãos deles e liberaram somente a nossa passagem com uma condição: que não ligássemos as motos e que deveriamos empurrá-las até o final do bloqueio.
Meu amigo, estávamos numa subida! Como empurrar uma moto carregada morro acima?
Argumentei que devido ao acidente não tinha forças e por fim nos autorizaram a ligar as motos para passar, desde que não subissemos nelas.
Assim fizemos e íamos tirando as pedras do caminho. Quando eles se descuidaram, subimos nas motos e vazamos.
Minha única preocupação era os estudantes do outro lado do bloqueio mas felizmente passamos e fomos embora depois de quase quatro horas parados.
Subindo ainda mais pela cordilheira, o tempo fechou e começou a chover.
Chover água e logo depois granizo. Nunca levei tanta pedrada.
Tivemos que parar as motos no acostamento e nos encolhermos até passar o temporal. Não havia onde se enconder.
Depois de uns dez minutos o tempo melhorou pudemos seguir a viagem tomando cuidado para não escorregar nas pedras de gelo sobre o asfalto.
O trio parecia não ter muita pressa e pararam várias vezes para fumar e tirar fotos.
Agradeci a companhia deles e segui sozinho até Potosi.
Parei num posto para reabastecer e logo depois meus colegas chegaram também.
Na Bolivia eles praticam dois preços na gasolina. Um para os nacionais e outro para os estrangeiros. A bomba é uma só com preço nacional. Se você for estrangeiro eles abastecem e multiplicam a litragem pelo preço para estrangeiros. Contudo, só te dão a nota se você insistir ou se a polícia estiver nas proximidades. Vi isso várias vezes na minha passagem pela Bolívia.
O trio seguiu para Sucre e eu com destino a Oruro a 270 km de distância.
Ia pensando como estaria o clima com os brasileiros pois foi nessa cidade que morreu o garoto Kevin Spada atingido por um foguete durante um jogo do Corínthians contra o time local há alguns meses.
Muitos trechos da estrada estão em obras. Aproveito então para tirar o atraso em lugares onde a rodovia permite.
Em um destes trechos, a meio caminho do meu destino, quando comecei a descer a rodovia, vi uma viatura policial lá embaixo e reduzi a velocidade.
Quando me aproximei, um policial me mandou parar enquanto o outro conversava com o motorista de um caminhão.
O policial já chegou dizendo que eu estava com excesso de velocidade e que a multa era de dois mil bolivianos (algo em torno de R$ 1.300,00!!). Aleguei que vinha na velocidade abaixo do permitido e ele me perguntou que velocidade. Disse 75 e ele teimando que eu estava a mais de 90. Pedi onde estava o radar e ele disse que não precisava mas que sabia que eu estava acima do estipulado.
Conversa vai, conversa vem e ele foi baixando o valor até chegar em 200 bolivianos para me liberar. Acho que o motorista do caminhão também estava sendo achacado.
Eu estava quase cedendo para poder ir embora, quando uma SUV preta passa por nós em altissima velocidade. Aquele sim estava correndo!
Os dois policiais se olharam e correram para a viatura e sairam no encalço no apressadinho.
O motorista do caminhão me olhou e com gestos me "perguntou": E agora?
Fiz sinal pra ele que eu ia cair fora e ele fez o mesmo.
Quanto aos policiais, devem ter pensado que se pegassem a SUV o "bônus" seria bem melhor.
Ainda receoso de ser parado pela policia em outro local, cheguei na movimentada Oruro por volta das 17h e procurei logo um hotel. Antes parei em uma avenida para deixar o trem passar pelo centro da cidade.
Acomodado, tomei um bom banho e resolvi sair pela vizinhança.
Encontrei várias mulheres com seus trajes típicos, vendendo de tudo, inclusive folha de coca em sacos espalhados pelas calçadas.
Achei que aqui poderia me ajudar na recuperação (ainda sinto tonturas) e comprei cinco bolivianos. Ela pegou um saco imenso e encheu de folhas.
Sem ter onde esconder, saí com ele, segurando por baixo da jaqueta e extremamente constrangido por algo que para eles era normal.
Ainda parei em um pequeno restaurante para jantar e tomei duas coca colas para ajudar na digestão.
Voltei ao hotel e resolvi mascar umas folhas para ver se surtia efeito.
Confesso que não senti nada diferente e fui dormir.
Rodei 470 km hoje e acumulei 25.400 quilometros.

61º Dia - 25 de março de 2014 - Oruro a Copacabana/Bolivia

O trecho de hoje será de aproximadamente 350 km.
Pretendo chegar a La Paz e depois ao Lago Titicaca na cidade de Copapacana, ainda Bolívia.
Deixei Oruro quando eram 09h30 e parti rumo a Caracollo.
Por volta das 11h já estava em Patacamaya e continuei na estrada com destino a La Paz.
Quando cheguei na cidade, com obras nas ruas e um trânsito caótico começou a chover. Em poucos minutos a coisa piorou com chuva de granizo.
Parei a moto e me abriguei sob uma marquise. Enquanto isso observava o trânsito com seus ônibus antigos e bicudos.
Consultei o mapa pois agora estou sem GPS desde Uyuni.
Com uma leve garoa deixei a capital boliviana e logo depois o tempo melhorou.
Cheguei a San Pablo nas marges no Lago Titicaca e atravessei com a moto em um grande barco de madeira, porém como velocidade reduzida.
Cheguei ao outro lado do lago, na vila de San Pedro e parti rumo a Copacabana, distante uns 35 km dali, subindo a montanha e tendo o lago como cenário ao lado.
Procurei por gasolina no posto mas não havia. Me indicaram uma oficina onde pude comprar dez litros.
Procurei um hotel e acabei me hospedando no Hotel Glória, de frente para o Lago.
Apesar de ainda não estar bem, descidi jantar e tomar um vinho, mesmo sabendo que não é recomendável a esta altitude.
As folhas de coca que venho mascando, não surtiram o efeito esperado e desisti delas.
Fui dormir mais tonto ainda rsrs.

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