quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Colômbia


73º Dia - 06 de abril de 2014 - Pasto a Ibague/Colômbia

Ontem adentrei à Colômbia e pernoitei em Pasto depois de ter visitado a Igreja de N.S. de Las Lajas em Ipiales.

O objetivo de hoje será chegar à Bogotá a 800 km. Não sei se conseguirei pois o trecho é de muitas curvas, subidas e descidas além de barreiras do exército colombiano.
Deixei Pasto por volta das 08 horas e parti para Popayan pela rodovia Panamericana.
A rodovia está muito bem cuidada.
Já é possível observar que o exército está presente nas cabeças de pontes, túneis, pontes e entrada de cidades com seus bunkers. Consequência da presença das FARCs pelo país.
Por volta do meio dia, um acidente feio, culminou com um carro totalmente destruido e meia hora de pista bloqueada até retirar o veículo.


Cheguei em Cali e mentalmente ia lembrando de um período tenebroso quando esta cidade junto com Medellin eram o centro da distribuição de cocaína para o mundo.
PS: Se tiverem interesse em conhecer um pouco mais, assistam ao seriado estrangeiro NARCOS que tem o brasileiro Wagner Moura representando o papel de Pablo Escobar. Vendo, é possível conhecer um pouco mais deste período sangrento da Colômbia, então dominada pelas FARCs, M-19 e os cartéis do tráfico.
Por onde passei, o visual era fantástico. Do alto da cordilheira pude observar a rodovia lá embaixo, parecendo um pequeno rio cortando o vale.
E dá-lhe curvas, algumas mais acentuadas que as outras.
Em uma delas, tive que passar por um caminhão pela mão contrária. Eu, já acelerado, fiz a curva quase no meio da pista. Em sentido contrário vinha uma carreta já avançando sobre minha pista para poder fazer a curva fechada. Resultado: passei pela direita dele, como se estivesse pilotando em mão inglesa.
Foi um susto grande mesmo que o caminhão vinha em baixa velocidade na subida.
Em nenhum local o exército me parou. Várias vezes buzinei, cumprimentando-os com um aceno e sempre me retribuiram.
Depois de Tulua começou um chuva fina mas contínua.

Quando cheguei próximo de Armenia, tomei à direita pois vou passar por Bogotá e entrar na Venezuela por San Antonio/San Cristobal no sul do país.
Do contrário, seguiria para Medellin e de lá para Cartagena, Barranquilha para entrar pelo noroeste via Maicao.
E rapidamente a noite chegou. E com ela a escuridão da cordilheira.
Aí pude comprovar que a lâmpada do farol trocado em Uyuni na Bolívia, não servia pra nada. Não bastasse isso, percebi que a lâmpada da lanterna traseira também não acendia.
Eu ainda estava longe da civilização e pensei que teria que dormir na estrada, acampado em qualquer lugar para prosseguir em segurança no outro dia. A próxima cidade era Ibague a 200 km de Bogotá.
Felizmente alguns caminhões também seguiam rumo a Bogotá e como estavam descendo a serra em baixa velocidade, devido às centenas de curvas, decidi seguir um deles.
E assim rodei uns cem quilômetros sem nenhuma iluminação. Quando percebia algum carro se aproximando, acionava o freio que era a única forma de alertar os condutores que eu estava ali na frente.
Quando vinha carros em sentido contrário, eu me aproximava o máximo do caminhão à minha frente para não correr o rísco de uma ultrapassagem em sentido contrário.
E assim, depois de rodar cerca de 600 km, cheguei todo enlameado em uma pequena posada ainda na serra onde caminhões paravam para serem lavados.
Era um local muito simples mas suficiente para minhas modestas pretensões.
Paguei os 40 mil pesos pela hospedagem e subi para tomar um bom banho.
Mais tarde comi um grande sanduiche com um refrigerante e dormi feito uma pedra.

74º Dia - 07 de abril de 2014 - Ibague a Bucaramanga/Colômbia

Continuo rodando sem GPS.
Como sou precavido, trouxe mapas plastificados de cada país. Assim, antes de sair pela manhã, consulto o mapa, vejo qual será o trajeto e mentalmente guardo o nome das cidades por onde passarei.
Durante o deslocamento, se tiver dúvidas, paro e consulto o mapa novamente.
Desde o acidente na Bolívia, desisti de conhecer melhor as capitais. Pretendo refazer partes desta viagem e futuramente dedicarei mais tempo à isso.
Por ora, vamos rodar!
Quando acordei, pensei aproveitar o posto de lavagem de caminhões e dar um banho na moto. Afinal, a última vez que a lavei foi.... nem lembro mais.
Um amigo me disse que moto bonita é moto suja pois prova que você é um estradeiro.
Deixo pra lavar depois então rsrs.
Ainda pensando como resolver o problema da iluminação da moto, continuei minha viagem.
Havia me dito que em Bucaramanga havia uma concessionária BMW e resolvi seguir minha viagem até lá. Se fosse preciso, ficaria lá um ou dois dias até resolver o problema.
Passei rapidamente por Ibague e Tolemaida e cheguei em Bogotá.Como disse, não tenho interesse em conhecer Bogotá e farei isso em outra oportunidade. Então, vamos enrolar o cabo rumo a Tunja.
Em muitos trechos, estou pilotando acima das nuvens.

Belas paisagens. Rodovias muito boas e em alguns trechosa montanha de um lado e do outro, precípicios imensos.
Caía a noite quando imaginei ter chegado em Bucaramanga.
Procurei por um hotel e tive dificuldades para encontrar.
No primeiro, não aceitavam dólares e nem cartão. Eu tinha esgotado meus pesos e tive que procurar outro..
O outro aceitava cartão mas tentamos passar várias vezes sem sucesso e o jeito foi perguntar por outro hotel.
O recepcionista me disse que só em BUCARAMANGA.
Ué, pensei que estava na cidade.
Na verdade não. Cheguei em uma pequena cidade 30 km antes.
Já estava rodando com a moto sem farol. Imagina ter que andar mais 30 km no escuro. Mas não tinha outro jeito.
Retornei à rodovia e segui atrás de um ônibus enquanto deu.
Finalmente cheguei em Bucaramanga e estressado pedi a um taxista onde tinha um hotel. Ele informou mas não entendi direito e paguei dez dólares a ele para me levar até lá.
O Hotel San Luiz era de bom padrão e pedi se aceitavam dólares. Diante da afirmativa, decidi ficar ali mesmo com o hotel custando 45 dólares a diária.

75º Dia - 08 de abril de 2014 - Bucaramanga/Colômbia a San Cristóbal/Venezuela

Depois de um bom café, pedi à recepcionista se conhecia uma loja da BMW na cidade. Ela me indicou o endereço perto do hotel.
Fui à pé e depois de umas três quadras, só vi loja de automóveis de várias marcas.
Em uma delas pedi se sabiam onde era a BMW e ninguém soube dizer.
Voltei ao hotel disposto à procurar melhor. Lá, fiquei sabendo que era no centro da cidade, longe de onde eu estava.
Decidi então seguir viagem, sem comprar as peças que faltavam.
Já estou perto de casa e vou fazer isso quando chegar lá, com calma.

Retornei à estrada e segui rumo à Cúcuta na fronteira com Venezuela.
Quase duas da tarde cheguei em Cúcuta disposto a sair da Colômbia no mesmo dia.

A região próxima da Aduana colombiana estava caótica com carros pra todo lado e um engarrafamento grande.
Segui me esgueirando entre os carros e quando cheguei no posto de controle, estacionei a moto em local não permitido mas não havia outro jeito.
Falei com um soldado e pedi onde era a imigração e a aduana. Ele apontou o outro lado da rua e fui até lá.
Na imigração foi relativamente rápido.
Contudo, na aduana não. Simplesmente o único funcionário não estava no local.
Esperei meia hora, procurei pelo sujeito e nada.
Quase uma hora depois ele apareceu. Aí já tinha uma fila grande de pessoas para serem liberadas.
Cheguou minha vez e ele pediu onde estava a moto.
Disse que estava do outro lado da avenida e ele me mandou buscar ela.
Tentei argumentar que era mais fácil ele ir até lá do que eu fazer o retorno. Não teve jeito.
Muito puto da vida fui até a moto e fiz o retorno passando pelo meio dos carros cujos motoristas não tinham nenhuma paciência e não economizavam na buzina.
Não havia como entrar no estacionamento. Um imenso caminhão ocupava a entrada e tive que passar por cima de um canteiro, contando com a ajuda de algumas pessoas que estavam ali.
Quando cheguei no local que me mandaram colocar a moto, o sujeito da aduana simplesmente olhou e assinou o papel, mandando eu seguir viagem.
Mentalmente dirigi alguns "elogios" a ele e voltei ao engarrafamento para sair da Colômbia, duas horas depois de ter chegado no local.
Logo depois já estava do lado venezuelano.

Parei ao lado de um soldado da Guarda Nacional Bolivariana e pedi onde fazia o trâmite.
Ele disse que era no centro da cidade mais à frente.
Não entendi e questionei de novo. Havia um imenso prédio do Seniat no local e porque tinha que ir até a cidade.
Não teve jeito e lá fui eu a procura da imigração na cidade de San Antonio.
Depois de algumas informações, encontrei o local mas nenhuma vaga nas proximidades. Rodei e deixei a moto uns cinquenta metros do prédio.
Depois de cinco pessoas, fui atendido e rapidamente liberado. Pedi pela aduana e me informaram que era em outro prédio a uns três quarteirões dali.
Eita povo que gosta de complicar.
Cheguei no endereço e vi que era um posto policial. Entrei e pedi pela aduana.
Um policial me disse que era no predio do Seniat na divisa do país. Aleguei que passei por lá e me disseram que era em San Antonio.
Ele disse que não. Eu teria que voltar ao local e depois de liberado teria que passar ali de novo para carimbar o documento.
Hoje não era meu dia. Nunca vi tanta burocracia.
Voltei à fronteira e procurei pela Aduana. Era nos fundos do prédio, por onde passavam dezenas de caminhões com cargas.
Enquanto esperava, vi várias vezes despachantes entregando calhamaços de papeis com dinheiro entre as folhas. Propina para liberar a carga mais rapidamente e sem conferência imaginei.
Quando chegou minha vez de ser atendido, o funcionário fez sinal que estava fechando e só me liberaria no outro dia.
Aí perdi a paciência de vez!!
Disse que já tinha passado por ali e me mandaram ao centro da cidade. E que se tivessem me dado a informação correta, eu já teria feito o trâmite há mais de uma hora.
Vendo que eu continuaria ali reclamando, resolveu me atender.
Pediu a papelada e e enquanto digitava com um dedo, segurava um pacote de chips na outra mão. Não bastasse isso, de vez em quando mordia uma barra de chocolate deixado ao lado do teclado.
Eu estava vendo a hora dele carimbar meu passaporte com aquela barra de chocolate.
Quase meia hora depois, finalmente estava liberado.
Voltei rapidinho ao posto policial no centro e estavam fechando. Implorei para carimbarem o permisso para eu seguir viagem e abriram a sala novamente.
Já anoitecendo e eu de novo, andando no escuro sem farol.
Achei que chegaria logo a San Cristobal mas era um trecho de mais de cinquenta quilometros e dezenas de curvas.

Quando cheguei, parei em um posto para reabastecer e pedir por um hotel.
De cara o abastecedor me pediu o ticket.
Mas será o benedito hoje? Quase perguntei: Que porra de ticket???
Nesta região, para conter o descaminho de gasolina para a Colômbia, o governo adotou um cartão magnêtico para os motoristas.
No posto há várias antenas que captam o sinal e só então podem abastecer.
Expliquei que era turista mas não teve jeito. Pedi então onde conseguiria o cartão naquela hora e ele disse que poderia tentar com algum motorista.
Desisti. Sei que na Venezuela vendem gasolina em quase todas as casas e resolvi parti para esta opção.Pedi onde conseguiria combustível e ele apontou uma casa a uns cinquenta metros. Lá fui eu.
Depois de alguma conversa (pelo adiantado da hora) consegui cinco litros.
Procurei por hotéis nas proximidades mas não encontrei. O único que vi, estava em obras.
Parei em uma farmácia e me indicaram um a cerca de tres quilometros.
Quando cheguei, vi que não era um hotel e sim um motel.
O negócio estava concorrido. Fila de carros e como já eram nove da noite, resolvi tentar ali mesmo.
Quando cheguei na guarita, pedi à moça quanto me cobraria por uma noite. Ela não entendeu e tive que explicar.
Depois de falar com o supervisor, a conta ficou em uns cem reais. Nem pensei duas vezes e topei.
Ela me autorizou a entrar e guardar a moto.
Contudo, o quarto ainda não tinha sido arrumado e tive que esperar quase uma hora para usar o mesmo.
Pensa em um dia estressante este de hoje.
Vou desmaiar na cama e não quero nem comer.

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