Dentre os vários desafios do moto grupo Fazedores de Chuva, cuja sede internacional se localiza em Itajaí - SC, grupo qual eu pertenço, está o chamado Valente Fazedor de Chuvas, título concedido àquele motociclista que percorre todos os municípios de um determinado Estado, sempre pilotando uma motocicleta.
Como prova da viagem, o motociclista Fazedor de Chuva precisa postar no site www.fazedoresdechuva.com textos e fotos tiradas com ele e a motocicleta em frente das prefeituras de cada município.
Eu, naturalmente, escolhi o Estado de Roraima. Com apenas 15 municípios, Roraima tem dimensões superiores a muitos países europeus e, para se ter uma idéia, atravessá-lo do Sul (dentro da Reserva Indígena Waimiri Atroari até o Norte, no Monte Caburaí, são quase mil quilômetros, onde muitas vezes não há estradas, ou quando há, estão em condições deploráveis.
Então, vamos viajar e conhecer um pouco mais sobre Roraima, o extremo norte brasileiro.
Moro em Boa Vista, capital do Estado de Roraima há sete anos, quando fui contratado em Manaus pela empresa em que trabalho.
Aliás, parece minha sina ser transferido. Atuei em uma multinacional de
petróleo e durante quase quinze anos, tive a oportunidade de trabalhar
em vários estados brasileiros e, em uma das transferências, fui
destacado para atuar na região norte, residindo em Manaus.
Para quem estava habituado com certas facilidades do sul e sudeste, vir
para a Amazônia, parecia ser loucura ou uma escolha errada na década de
90.
Contudo, quando cheguei e tive a oportunidade de conhecer melhor a
região, apaixonei-me. O aprendizado pessoal e profissional foi enorme e
tive a oportunidade de trabalhar em todos os estados da região norte ou
como dizia “do Acre ao Maranhão”.
Dois anos depois, nova transferência, desta vez para o Rio de Janeiro,
onde fiquei outros dois anos. Ao me desligar da empresa, não hesitei e
retornei para Manaus. Lá, depois de cinco anos atuando no agronegócio,
fui contratado para trabalhar em Roraima.
A história de Roraima (se pronuncia Roráima) tem seu início em 1670
quando os primeiros exploradores aportaram na região, procurando
garantir o domínio português, uma vez que espanhóis já circulavam por
aqui. Cinquenta anos depois, missionários carmelitas se fixaram na
região e iniciaram a catequização dos indígenas.
A partir do século 18 começaram a chegar expedições de interesse
científico ou atraídas pela notícia de riquezas fabulosas, dando origem a
lenda do Eldorado, onde o ouro era abundante.
Em 1872 iniciou-se o trabalho de demarcação das fronteiras com a
Venezuela e Guiana Inglesa. Somente em 1943 criou-se o Território
Federal do Rio Branco que foi desmembrado do Amazonas, tendo como
capital a cidade de Boa Vista. Posteriormente, recebeu outro nome,
passando a ser conhecido como Território Federal de Roraima e, em 1988
foi transformado no Estado de Roraima, mantendo-se Boa Vista como
capital.
Fato curioso, mas verdadeiro, durante muito tempo a confusão entre
Roraima e Acre, gerou situações cômicas, onde correspondência,
encomendas e pessoas que deveriam vir para Roraima, foram parar no
Acre. Explico: antigamente esta região era conhecida como Território
Federal do Rio Branco, por que aqui o principal rio tem este nome e
percorre o estado na direção sul, desaguando do Rio Negro, que por sua
vez se junta ao Rio Solimões em Manaus, dando origem ao Rio Amazonas. No
Acre, o rio que banha a capital Rio Branco é o Rio Acre. Esta confusão
foi parcialmente resolvida quando o território passou a ser chamado de
Roraima. Agora, a confusão é com Rondônia. Muita gente ao destinar
correspondência para nosso estado, escreve RO (Rondônia) quando deveriam
escrever RR (de Roraima).
Roraima é um estado jovem e conta com apenas 15 municípios como já citei. Contudo, as
distâncias geográficas são imensas.Caracterizado por vegetação diversificada, ao
sul temos a floresta amazônica até a linha do Equador.
A partir dali temos extensa planície com campos conhecidos como
lavrados, que muito se assemelham a savana africana. Mais ao norte, a
região se caracteriza pelas serras e montanhas como o Tepequém, o Monte
Roraima e o Monte Caburai no extremo norte brasileiro, objetivo a ser
atingido por todo candidato a Cardeal Fazedor de Chuva.
Monte Roraima na divisa com Venezuela e Guiana – Foto de Tiago Orihuela
Monte Caburai – Extremo norte do Brasil – Foto de Orib Ziedson
Conforme o Censo IBGE 2010, Roraima conta com pouco mais de 450 mil habitantes onde 284 mil deles estão na capital Boa Vista.
Isso faz com que seja o menos habitado, pois a densidade demográfica é
de apenas dois habitantes por km2. As distâncias rodoviárias entre os
municípios são grandes e muitos trechos não são pavimentados, aumentando
o grau de dificuldades.
Praticamente metade do estado pertence a parques nacionais ou são
reservas indígenas das etnias Taurepang, Ingaricó, Macuxi, Yanomamis,
Waimiri-Atroari, Wai-Wai e Wapixana.
01º/15 - Dia 19/01/2013 – Alto Alegre (185 km ida e volta)
Meu primeiro objetivo do Valente FC é chegar a Alto Alegre distante 90 quilometros de Boa Vista.
Como é período de férias, vários amigos estão viajando, razão pela qual
posso contar somente com a companhia do meu amigo José Simão, o
Tiranossauro Rex e sua Harley.
Partimos as 10:30 horas pela RR 205. A rodovia estadual tem seus
primeiros 45 km com asfalto de boa qualidade até a ponte do Igarapé Au
Au. A partir dali começa trecho de muitos buracos e em outros lugares
parece que a pista recebeu apenas lama asfáltica, deixando o pavimento
com ondulações, algumas no mesmo sentido da pista, exigindo maior
atenção do piloto, pois a motocicleta tende a desviar seu trajeto.
Por volta do meio dia, entramos na pequena cidade e procuramos a
prefeitura local. Com informações de transeuntes, localizamos o prédio
que estava fechado, afinal era sábado. Não havia nenhuma placa que
identificasse o local e tiramos uma foto através da grade.
Conversamos com um vigia que nos disse que o novo prefeito havia
retirado a placa “para fazer uma melhor”. Aproveitamos então para
fotografar o prédio do Fórum de Justiça que fica ao lado da prefeitura.
Enquanto fotografávamos o local, fomos informamos que em uma das casas
próximas morava um dos fundadores da cidade e que o mesmo era o pai do
atual prefeito. Não hesitamos e fomos bater um papo com a senhora
Rosimar, esposa de Pedro Costa que nos contou algumas histórias. Seu
Pedro sofreu um AVC há pouco tempo e não pode conversar conosco.
Aproveitamos então para uma foto com o simpático casal.
O povoado que deu origem ao município, foi formado a partir da Colônia
agrícola “Coronel Mota”, composta por imigrantes japoneses que
abasteciam a capital com produtos hortifrutigranjeiros.
Em 1977, foi emancipado à vila e, em 1º de julho de 1982, passou a município, desmembrando-se de Boa Vista.
Tem sua base populacional dividida entre indígenas e nordestinos vindos
principalmente do Maranhão. Apresenta três áreas de terra indígena e
grupos indígenas respectivamente: Anta, Barata/Livramento, Boqueirão,
Raimundão, Truaru com índios
Macuxi/Wapixana); Mangueira, Pium, Sucuba (Macuxi) e Yanomami (Yanomami).
O gentílico do município é alto alegrense.
http://goo.gl/maps/u51tJ
Com o adiantado da hora, resolvemos almoçar na cidade. Achamos um
pequeno restaurante onde foi possível comer um bife com arroz e feijão.
Na volta, observamos melhor a paisagem, composta basicamente por grandes
fazendas de gado de corte. É muito comum nesta época do ano, atearem
fogo para renovação das pastagens. É desolador percorrer vários
quilometros observando queimadas.
Chegando a Boa Vista, meu amigo Zé faz um sinal de que sua HD estava com
problemas. Parei e ele encostou dizendo que várias luzes estavam acesas
no painel. Desligou a moto e ai não teve jeito de fazê-la funcionar
novamente. Por sorte estávamos na entrada da cidade e tivemos que chamar
o Naldo, nosso mecânico para fazer o socorro. Nos últimos cinco
quilometros, a HD do Zé foi rebocada.
Fechei assim o primeiro trecho do desafio com 186 km percorridos. Restam outros 14 municípios pela frente.
2º/15 - 26/01/2013 - Município de Cantá - (85 km ida e volta)
Com muita dor no pulso esquerdo,
decidi fazer hoje um trajeto pequeno indo até o vizinho Município de
Cantá.
Parti as 10h atravessando a Ponte dos Macuxis sobre o Rio Branco.
Próximo da ponte, várias empresas fazem a extração de areia utilizando
balsas com dragas e na cabeceira da ponte é comum encontrar muita areia
sobre o asfalto, consequência do grande número de caminhões que ali
passam carregados com este material. Há que se tomar cuidado pois
derrapagens são comuns naquele local.
Como estamos no verão, a vazante do Rio Branco deixa a mostra imensos bancos de areia no meio do leito formando praias naturais durante os meses de outubro a abril. Em alguns locais é possível atravessar a pé, praticamente toda extensão.
O tempo contribui e apesar de nublado, não há previsão de chuva. Aliás,
na região amazônica só há duas estações climáticas no ano: o verão,
caracterizado por longos períodos ensolarados e muito quente e o chamado
inverno, época em que chove todo santo dia. No Amazonas, geralmente
chove de novembro até maio e em Roraima de abril a setembro, razão pela
qual costuma-se dizer que “quando para lá, começa cá”.
Tomei a BR 401 até o entroncamento com a BR 432 e dali parti para o
Cantá. Com a rodovia em boas condições, porém com muitas ondulações, o
trecho requer alguns cuidados pois há curvas acentuadas e uma ponte de
madeira onde só passa um veículo por vez.
Ao longo do trajeto é possível observar a típica vegetação do lavrado
roraimente. O caimbé é planta nativa e presente em todos os lugares.
Trata-se de uma árvore pequena e retorcida com folhas grossas e ásperas
muito utilizada no interior e comunidades indígenas para limpeza de
panelas pois sua ação é semelhante à palha de aço. Outra planta típica
da região é o buritizeiro, palmeira que só cresce nas margens de
pequenos igarapés ou lagoas. Do fruto do buriti se extrai a polpa para
sucos, sorvetes e cosméticos além de ser muito apreciado por animais roedores como cotia, paca e capivara que se alimentam deles.
Na entrada da pequena cidade descobri que o temporizador da minha câmera
não está funcionando e como fui sozinho, o jeito é tirar foto apenas da
moto ao lado da placa que indica onde chegamos.
Esta rodovia, que passa por dentro da cidade, em seu traçado original,
pretendia ligar em uma linha reta Boa Vista ao sul do estado, mas com o
passar dos anos, apenas um pequeno trecho de 50 quilometros foi
asfaltado, permanecendo quase 250 quilômetros sem qualquer
pavimentação. Este trecho durante o período chuvoso torna-se
intrafegável e quem mais sofre são os produtores rurais que não tem como
escoar seus produtos.
Cantá é um pequeno município no centro leste de Roraima e que surgiu no
final do século XX através da Colônia Brás de Aguiar, composta
basicamente por imigrantes nordestinos e recebeu essa denominação em
homenagem ao capitão-de-mar-e-guerra, Brás Dias de Aguiar, que foi um
importante geógrafo e demarcador das fronteiras brasileiras. Dados do
Ministério da Defesa, (2004), mostram que a Colônia Brás de Aguiar, foi
criada, com a finalidade de abastecer Boa Vista, com produtos de
primeira necessidade, principalmente arroz e mandioca. Mais tarde passou
a se chamar Vila do Cantá, até que em 1995 se tornou município.
Ao chegar na prefeitura nova decepção. É a segunda prefeitura que visito
que não tem placa de identificação. Aliás, a do Cantá até tem, mas a
lona está rasgada.
Aproveitei a passagem de dois garotos e pedi a eles que me
fotografassem em frente ao prédio. .
A passagem pela cidade e relativamente rápida. Não há muito que se ver, pois 85% da população mora na área rural.
A exemplo de outros municípios do Estado de Roraima, Cantá padece com a
falta de investimentos públicos e privados. A pequena cidade de 14 mil
habitantes tem sua economia baseada na agricultura e pecuárias de
pequenos produtores cantaenses além da extração e beneficiamento de
madeira.
Dentro da área do município, encontramos as terras indígenas da Taba Lascada e Muriru onde habitam povo da etnia Wapixana.
http://goo.gl/maps/QtclM
Durante a volta, é possível observar barracos de lona e palha nas
margens do Rio Branco. É a Vila Vintém, comunidade de oleiros que fazem
tijolos artesanalmente. Quando o Rio Branco está cheio, alaga e inunda
toda a comunidade. Quando as águas começam baixar com a vazante, os
oleiros começam a produzir os tijolos com o barro deixado pelo rio nos
inúmeros poços escavados na margem esquerda.
3º/15 - 02/02/2013 - Boa Vista - Mucajai - Iracema - Caracarai ( 270 km ida e volta)
O sábado amanheceu carrancudo. Apesar de moça do tempo ter anunciado na
TV ontem a noite que não choveria em Roraima nos próximos 15 dias, não é
o que está me parecendo.
Durante a semana convidei o Mauro, amigo do Roraima MC do qual faço
parte para fazer este trecho comigo. Havíamos combinado sair as 10h30min
com destino a Caracaraí a 135 km e na volta passaríamos por Iracema e
Mucajai.
http://goo.gl/maps/HjzTC
Levantei cedo e fui para a Prefeitura de Boa Vista fazer a foto oficial.
Conforme o Censo IBGE 2010, Roraima conta com pouco mais de 450 mil
habitantes, dos quais 284 mil estão na capital Boa Vista. Única capital
brasileira situada no hemisfério norte, Boa Vista está localizada a 770
km de Manaus cujo único acesso rodoviário se dá pela BR 174, hoje
totalmente restaurada.
Orla Taumanan - Foto de Tiago Orihuela
De Boa Vista é possível ir para a Guiana (130 km), Suriname e Guiana
Francesa, reentrando no Brasil pelo Oiapoque. Também pode-se ir para a
Venezuela (210km) e de lá para toda América do Sul.
Vista área de Boa Vista, capital de Roraima - Foto Tiago Orihuela
Tivemos época em que os buracos nesta estrada eram tão grandes que
cabiam tranquilamente uma motocicleta. Não bastasse isso, há dois anos,
Roraima registrou a maior enchente dos últimos 30 anos e a BR 174 teve
vários trechos alagados, deixando Boa Vista e outros municípios ilhados.
Faltou comida, gás e combustíveis. Tivemos que apelar para Venezuela.
Partimos as 11h e duas horas já estávamos em Caracaraí.
4º/15 - CARACARAI
O nome da cidade de Caracaraí, criado em 1955, vem de origem de um
pequeno gavião que habita o centro-sul de Roraima. O povoado surgiu no
local de descanso dos condutores de gado que saiam do antigo município
de Moura, que deu origem ao Território do Rio Branco, mais tarde
Território de Roraima e hoje Estado de Roraima.
Historicamente, conhecido como Cidade Porto, é suporte de abastecimento
de Roraima, principalmente com derivados de petróleo transportados em
balsas desde a refinaria em Manaus.
Porto de Caracaraí
Toda região amazônica é caracterizada pelo transporte fluvial de pessoas
e cargas. As balsas que partem de Manaus pelo Rio Negro, adentram ao
Rio Branco e chegam somente até Caracarai. Em razão das características
do Rio Branco,com muita pedra, bancos de areia e corredeiras, não há
como continuar a navegação de grandes embarcações a partir desta cidade.
O mais importante produto da época era a produção de gado, que era
embarcada em batelões na cidade de Caracaraí, em direção a cidade de
Manaus, que por sua vez abastecia Roraima com aviamentos a bordo dos
mesmos batelões ao retornarem.
O município é cortado pela rodovia federal BR-174 que liga Boa Vista a
Manaus e à Venezuela. Este município é detentor de elevados percentuais
de áreas protegidas e possui uma reserva indígena de aproximadamente
7.638,06 Km2, onde vivem as etnias Wai-Wai, Wapixana e Yanomami.
A grande vocação natural do município de pouco mais de 18 mil habitantes é a pesca, sendo o maior produtor do Estado.
Quanto aos atrativos turísticos do Município os principais são as
Unidades de Conservação - (UC’s), como as estações Ecológicas de
Caracaraí e de Niquiá, parques Nacionais do Viruá e Serra da Mocidade,
Floresta Nacional de Roraima, e, ainda, o Projeto de Preservação de
Quelônios, todos sob a jurisdição do IBAMA e a queda d'água do Bem
Querer, com vestígios arqueológicos.
A estação Ecológica de Caracaraí possui um atrativo de grande
importância para a atividade do ecoturismo, dadas as inigualáveis
oportunidades de observação da flora e fauna pois, corrobora uma parte
atípica da Amazônia Ocidental. O acesso é por barco pelo Baixo Rio
Branco.
Já a Estação Ecológica de Niquiá, além dos atrativos anteriores e de sua
natureza exuberante, o local está repleto de lendas devido o imaginário
popular e das culturas indígenas.
Quanto as Corredeiras do Bem Querer são ideais a prática de canoagem e
caiaque no Médio Rio Branco, devido ser o único trecho do rio em que há
grande quantidade de blocos de rochas formando corredeiras e cachoeiras
durante o verão. Nas formações rochosas há pinturas rupestres e
vestígios dos primitivos habitantes da região. O acesso é pela BR-174,
com entrada próxima à sede do município. A estação é visitada por
turistas locais e estrangeiros.
Outro atrativo turístico é o Complexo Ecoturístico Ilha do Jaru, além
das belezas cênicas o local apresenta boa infraestrutura para o
atendimento aos turistas.
A fome é grande e resolvemos almoçar na beira do Rio Branco. É claro que
o prato só poderia ser peixe e aproveitamos para pedir um escabeche de
filhote (peixe de couro branco parecido com o surubim, porém sem as
pintas) e exageramos.
Depois do almoço fomos ao centro cívico, imensa rotatória onde no centro
encontra-se o prédio da Câmara Municipal e a Prefeitura. Eu já ia
pensando que, a exemplo das duas prefeituras anteriores, não haveria
placa indicando a prefeitura. Dito e feito. Parece que todos os
prefeitos resolveram descaracterizar os prédios tão logo assumiram o
posto em janeiro.
Parece que estão querendo me sabotar. Não me dei por satisfeito e,
apesar de não ter expediente, achei uma porta aberta e entrei. Localizei
a tradicional placa e click. Eu estive aqui!
Nos damos por satisfeitos e iniciamos a volta.
5º/15 - IRACEMA
Este pequeno município de 9 mil habitantes situado às margens da BR 174
tem sua economia baseada na agricultura, sendo um dos principais
produtores de melancia do estado.
O Município de Iracema foi criado em 1994. O nome do município
homenageia a esposa do primeiro morador, o hospitaleiro Sr. Militão
Pereira da Costa. Foi constituído a partir das terras desmembradas do
Município de Mucajaí. Suas principais vilas são: São José, São Raimundo,
Apuruí, Vila Iracema (sede) e Campos Novos.
Sua economia é basicamente agrícola, possui cooperativas no escoamento da produção.
Este município abriga parte da reserva Indígena Yanomami, ocupando 80% do seu território.
O calor estava de matar e paramos na entrada da cidade para tomar uma
água mineral. Confesso que não entendo esta conta: Aqui, uma garrafa de
água produzida em Belém (a 2.500km) custa R$ 1,75. Uma garrafa de água
mineral produzida em Boa Vista (a 100 km) custa os mesmos R$ 1,75. Assim
não dá para ajudar a economia local.
Tomamos água paraense e logo depois procuramos o prédio da prefeitura que para variar estava fechado, afinal é sábado.
Agora sim dá para identificar melhor o local.
Depois da foto oficial, rumamos para Mucajai com o tempo indicando claramente que faríamos chuva pelo caminho.
6º/15 - MUCAJAÍ
Trata-se de município com quase 15 mil habitantes e cujo nome na linguagem indígena significa côco pequeno.
Como de praxe, passamos na prefeitura e registramos nossa presença.
Estamos acostumados a fazer o bate-volta em Mucajaí para comermos uma
deliciosa galinha caipira em alguns fins de semana.
Criado em 1982, o município teve sua origem em 1951 como Colônia
Agrícola. Teve seu crescimento atrelado à construção da BR-174. Com a
instalação da Unidade do 6° BEC em 1970, foram construídas casas para as
famílias dos operários, originando um núcleo comercial e também sendo
parada obrigatória dos viajantes que esperavam pela balsa, bem como,
para descanso e abastecimento. Sendo próximo a capital, com um potencial
madeireiro bem expressivo e as atividades agrícolas propicias atraíram
novos moradores.
O rio Mucajaí que passa ao lado, deu origem ao nome do Município.
Pelos estudos do SEBRAE-RR, as primeiras famílias a chegarem a Mucajaí
foram as de Raimundo Germiniano de Almeida, Joaquim Estevão de Araújo,
Genésio Rufino, Lindolpho Braga Pires e Chagas Pinto, oriundas do
nordeste. Na época, não havia estradas e o único meio de transporte era o
fluvial.
Em março o município encena a Paixão de Cristo, data em que duplica a população da cidade.
A economia mucajaiense é basicamente oriunda da agropecuária. Cabe
ressaltar que todos os municípios roraimenses são ricos em minerais como
o ouro, diamante, nióbio, dentre outros. Sabe-se ainda que o petróleo
também pode ser explorado, mas parece que não há interesse do momento.
No horizonte o céu escuro parecia adivinhar que tinha Fazedor de Chuva
na estrada. Então, por que não homenageá-lo. E tome chuva.
Faltando 50 km para chegar em Boa Vista, debaixo de muita água,
reduzimos a velocidade e encharcados, mas felizes, depois de mais uma
etapa, voltamos para casa.
7º/15 - 07 e 08/02/2013 - Município de Uiramutã ( 600 km de ida e volta, dos quais 280 km sem asfalto)
Há alguns dias aguardava Osmar e Terezinha , de Balneário Camboriú - SC,que chegaram a Roraima para o desafio Bandeirante FC e Cardeal FC.
O Monte Caburaí se localiza no Município de Uiramutã e, como eu estou
fazendo o Valente FC e o Cardeal FC, decidi fazer este município na
companhia dos mesmos.
De todos os municípios de Roraima, sem dúvida Uiramutã é o mais
complicado. Partindo de Boa Vista, são 300 km de ida, dos quais apenas
160 asfaltado.
http://goo.gl/maps/90kNc
Com muitas subidas e descidas íngremes, sem pavimentação, eu já sabia
que teríamos dificuldades pois este trecho sem asfalto leva cerca de três horas para ser concluído.
Combinei com o Osmar que partiríamos na tarde do dia 07,
quinta-feira. Contudo, por necessidades profissionais, me atrasei e
somente saímos de Boa Vista por volta das 15 horas tomando a BR 174
sentido Venezuela. A Boulevard ficou na garagem pois não há como ir para
Uiramutã com uma moto custom. O jeito foi emprestar uma Lander 250 do amigo Chico Xavier.
No KM 100 paramos para o abastecimento de gasolina "alternativa" (como
não há postos ao longo desta BR, muitas pessoas sobrevivem do descaminho
de gasolina trazida da Venezuela, onde compram a preços muito baixos e
revendem neste local e até em Boa Vista).
Depois do abastecimento percorremos mais 60 km e tomamos a RR 202 até a Vila Contão e depois a RR 171 até o Uiramutã.
Nos primeiros KM a estrada parecia boa e conseguimos manter média de 55
km/h até chegar no entroncamento Placas (onde começa a Reserva Indígena
Raposa Serra do Sol).
Começava a escurecer e não havia outro jeito senão tocar em frente pois
tínhamos percorrido 160 km de asfalto e apenas 58 km de terra.
Até ai tudo bem. Porém, a estrada começou a mostrar sua verdadeira cara.
Muito pedregulho solto, muitas subidas e descidas na beira de precipícios que no escuro não dava para ver o fundo. Além disso,
inúmeras pontes de madeira em mau estado de conservação. E tudo isso de
noite. Coisa de malucos mesmo.
Depois de seis horas na estrada e três de completa escuridão, só
iluminada pelos faróis das duas motos, avistamos as luzes de Uiramutã e
comemoramos.
Tão logo chegamos, procuramos o Hotel Monte Carburai do Chico Tala (por
sorte eu tinha reservado dois "apartamentos" com ar condicionado, um
luxo na cidade).
Cumprimentei o Osmar e a Terezinha, pela conquista do Cardeal Fazedor de
Chuva, e imagino que sejam os primeiros a desbravarem os quatro cantos
do Brasil.
Nos acomodamos e o jantar que tinha sobrado era arroz frio, ovo caipira
frito, carne, que confesso não saber de que bicho era. Um jovem,
visivelmente bêbado, nos pagou uma rodada de cerveja e de quebra, acabou
jantando conosco.
Depois da janta regada a cerveja, o Osmar marcou território dos FC adesivando a caixa registradora do hotel.
Confesso que mal cheguei na cama e desmaiei.
O município de Uiramutã, situado nas coordenadas geográficas 60º 09' 93"
de longitude Oeste e 04º 35' 68" de latitude Norte, antes denominado
Vila do Uiramutã, pertencia ao Município de Normandia. Foi emancipado em
Outubro de 1995.
É o Município mais ao norte do Brasil, compondo a tríplice
fronteira Brasil/Venezuela/República Federativa da Guiana. É também o
Município com a maior população indígena do Estado de Roraima,
subdividida em duas etnias - Ingaricó e Macuxi. A maior parte de sua
população é indígena.
Dentre as diversas vilas existentes, as principais são: Água Fria, Mutum
e Socó. Diversas condições desfavoráveis implementadas por várias
décadas, contribuíram para a colocação da região de Uiramutã, aos mais
baixos índices de desenvolvimento humano do Brasil (I.D.H).
Está situado no extremo norte do Estado e do País, numa das mais lindas
regiões da Terra de Macunaíma, faz fronteira com dois países (Venezuela e
República Cooperativista da Guiana).
Este município surpreende pela sua singularidade cênica e seu potencial turístico é indiscutível.
Principalmente, as cachoeiras com piscinas naturais possibilitando a
prática de turismo aventura, dentre as cachoeiras se destacam as:
Cachoeira do Aparelho, das Caveiras, das Andorinhas, Apertar da Hora, da
Fumaça, Sete Quedas, Jauari, Tiporem, do Mutum, Rabo do Jacu e do Japó,
dentre outras e o Pico do Sapã.
Possui inúmeras serras, dentre elas a Serra da Mara, Uarund Kaieng, do
Maturuca, do Uailan, do Marari, Saporã, do Cavalo, do Rato e Serra
Verde. Porém, as mais importantes são: Monte Caburai, que é o ponto mais
extremo do norte do Brasil (olha o Cardeal aí gente), e onde se
encontra a nascente do rio Uailã, e a Serra do Sol onde vivem os índios
Ingarikó, privilegiados pela beleza do Monte Roraima, com 2.875 m de
altura , da cachoeira do Rebenque e da Pedra de Macunaíma.
A maior parte dos quase 9 mil uiramutansense é indígena, distribuída em
várias malocas que fazem parte da reserva indígena Raposa Serra do Sol.
A região é tradicionalmente rica em ouro e diamante e apresenta
potencial para a pecuária e para culturas agrícolas tradicionais. Além
desses aspectos, as belezas naturais do Município podem vir a
transformá-lo num expressivo pólo turístico, representando sua principal
vocação econômica.
Enfim, a criação do Município de Uiramutã coincide com término da
prática de exploração mineral, que pôr várias décadas vinha sendo a
principal atividade econômica da região, que era praticada sem nenhuma
observância aos critérios de sustentabilidade social e ambiental. Em
razão disso, é possível verificar uma diversidade de impactos ambientais
negativos, ocorridos nos últimos vinte anos, em diversas áreas, a
exemplo de áreas fragmentadas, rios assoreados, erosões, meios de
produção insustentáveis, escassez da fauna e flora.
Notadamente, o recém criado Município restou apenas a difícil tarefa de
reorganizar a economia redirecionando-a para que pudesse caminhar rumo à
sustentabilidade econômica,
social, cultural e ambiental. (fonte: Seplan/RR).
No dia seguinte acordamos cedo. Tomamos o café e descartamos visitar
cachoeiras (Uiramutã é conhecida como a terra das cachoeiras) pois nesta
época do ano os rios estão secos e elas deixam de ser atraentes.
Mais uma vez recorremos ao abastecimento de gasolina em garrafas pois não há posto de combustível em Uiramutã.
Como de praxe, fomos até a prefeitura local para as fotos.
Também não foi novidade não encontrar placas que indicassem que ali era a
prefeitura. De qualquer modo, fotografamos a placa na parede e
conversamos com o secretário de administração (o prefeito estava em Boa
Vista).
Aproveitamos ainda para participar do içamento da bandeira nacional no extremo norte do Brasil.
Além disso, outras fotos locais.
E assim iniciamos a volta. No caminho com o dia claro nos demos conta do
grau de dificuldade pelo qual passamos na noite anterior.
Muitas subidas e descidas na beira de precipicios, muitos buracos e
pedras soltas pelo caminho além das inúmeras pontes de madeira mal
conservadas. Não bastassem estas dificuldades, é muito comum encontrar
bois e cavalos que são criados sem cercas pelos habitantes locais, em
sua maioria indígenas.
A concentração na pilotagem era permanente pois o menor descuido poderia
resultar em um tombo com sérias consequências, principalmente nas
subidas e descidas ao lado dos precipícios.
Depois de três horas comendo poeira, chegamos à BR 174 e depois de outro
reabastecimento no KM 100, chegamos a Boa Vista onde deixei o Osmar e a
Terezinha no Consulado da Guiana para finalizarem a documentação para
ingresso na Guiana.
Deixo aqui o meu agradecimento pela companhia maravilhosa do Osmar
e Terezinha nesta etapa. Que Deus os abençoe e proteja-os nestas
andanças pelo mundo.
Finalizo assim a primeira etapa do Cardeal Fazedor de Chuvas e mais um município de Roraima para o Valente Fazedor de Chuva.
8º/15 - 09 e 10/02/2013 - Município de Amajari (420 km de ida e volta)
Ainda dolorido pela viagem ao Município de Uiramutã, aceitei o convite
de seis integrantes do Caveira MC de Manaus que de passagem por Boa
Vista, com suas esposas, iriam até a Serra do Tepequém no Amajari.
Somos amigos e apaixonados pelo motociclismo, logo, seriam ótimas companhias na viagem.
Combinei com o Mauro e o José do Roraima Moto Clube e partimos no sábado as 13h para mais uma etapa do Valente FC.
A viagem teve inicio pela BR 174, sentido norte até o Km 100 quando
tomamos à esquerda pela RR 203 para 55 km depois chegar ao município de
Amajari.
http://goo.gl/maps/m7eD3
A rodovia estadual está mal cuidada e são muitos buracos na pista. Não
bastasse isso, a região concentra grandes fazendas de gado e é muito
comum ver animais sobre o asfalto.
Ao longo deste trecho o cuidado deve ser redobrado. Até a sede do
município há três pontes de madeira muito mal cuidadas que permitem a
passagem de apenas um veiculo por vez.
Nesta região, há muitos criadores de gado. Além disso, há várias aldeias
e é costume indígena criar animais soltos, sendo muito comum você ver
pequenos grupos de bois e cavalos atravessando a estrada sem a menor
cerimônia.
Nos lavrados roraimenses, ainda há cavalos selvagens que cavalgam
livremente. Estes animais soltos durante o período da colonização, foram
procriando e hoje formam pequenos bandos.
Isso me fez lembrar uma cena há dois anos, onde eu, voltando com minha
Amazonas 1600 de um festejo no Amajari, já escuro, quase atropelei meia
dúzia destes cavalos. Confesso que dei sorte, pois havia diminuído a
velocidade para cruzar uma ponte de madeira, senão.....
Chegamos ao município e tratamos de abastecer as motocas.
O povoado que deu origem à cidade começou com um bar, em 1975, cujo
proprietário é o morador e comerciante, Senhor Brasil. A partir daí
surgiram as primeiras residências ao redor,
cresceram em número e formaram uma vila, elevando-se a categoria de Vila
Brasil, em homenagem ao fundador. Em 17 de outubro de 1995
transformou-se em município levando o nome de Amajarí, devido ao
principal rio da região do Estado - o rio Amajarí, afluente do rio
Uraricoera.
A população da região é composta de índios e nordestino, que, pelos seus
costumes, acabaram por transformar o lugar na “Capital do Forró”.
Descobri que "tenho" um supermercado na cidade (é a globalização
eheheh).
A bacia hidrográfica é composta pelos rios Uraricoera, Parimé e Amajarí
(foto abaixo) e a cobertura vegetal é caracterizada por florestas densas
e savanas.
Esse município possui uma área demarcada como reserva indígena de
16.790,99 Km2, representando 58,71% em relação às terras do Município.
Suas principais áreas são ocupadas pelos indígenas da etnia macuxi nas
comunidades do Ananás, Aningal, Cajueiro, Ouro, Ponta da Serra e Santa
Inês; os wapixanas na comunidade Anaro e Araçá (esta última, dividida
também com os macuxis) além dos yanomamis na área yanomami .
A sede do município é relativamente pequena. São pouco mais de 9 mil habitantes distribuídos entre a cidade e o campo.
Subindo a serra, neste pequeno trecho há outras nove pontes de madeira e
na subida da serra há dezenas de curvas e subidas “de assustar”
qualquer vivente.
Tepequém se caracterizou pela exploração de diamantes entre os anos de
1950 a 1980, tendo ali nascida a Vila do Paiva. Como já afirmei antes,
Roraima é riquíssima em minerais e o diamante é apenas uma das riquezas
desta terra. Infelizmente, hoje a extração é proibida mas ainda assim
alguns garimpeiros sobrevivem desta atividade.
A 1.100 metros acima do nível do mar, é um refúgio para os fins de
semana com belas cachoeiras e clima de inverno, muito diferente daquele
da capital roraimense.
Foto em frente a prefeitura de Amajari, cumprindo as regras
De Amajari até a Vila do Paiva no topo da serra são cerca de 50 km de subidas, curvas e belas paisagens.
O Tepequém hoje é uma pequena vila com cerca de 500 habitantes. Entre
1950 e 1980 chegou a ter 10 mil moradores quando se extraía muito
diamante naquele local. Hoje é um pequeno paraíso ecológico onde alguns
ainda sobrevivem do garimpo.
É um excelente local para passar o fim de semana, tomando banho nas
cachoeiras do Paiva, do Barata e mais distante a cachoeira do Funil
(aberta pelos garimpeiros com constantes explosões de dinamite em busca
do diamante).
Depois de um dia relaxante, é hora de voltar para casa para mais uma semana de labuta.
9º/15 - 16/02/2013 - Boa Vista - Pacaraima - Boa Vista (450 km de ida e volta)
O sábado era esperado com ansiedade para percorrer mais uma etapa do VFC Roraima.
Já havíamos combinado ao longo da semana esta viagem com direito a uma esticadinha até a Venezuela.
Por volta das 10h30 nos reunimos no posto de combustível 2.90 (dois
noventa) na saída da cidade. Coincidentemente outro moto clube havia
planejado fazer a viagem no mesmo dia, de tal sorte que cerca de 15
motociclistas estavam no local.
Como o grupo era composto por motocicletas esportivas, deixamos eles seguirem viagem, pois o ritmo de viagem deles é outro.
Na companhia do Mauro, Genes, José e João do Roraima Moto Clube e do
Torquato do Anarquia MC, deixamos Boa Vista as 11h rumo a Pacaraima, na
fronteira com a Venezuela.
http://goo.gl/maps/NVMge
A BR 174 está em boas condições, porém o pavimento a partir do Km 85
apresenta muitas desníveis pelas constantes operações de tapa buraco,
exigindo concentração na pilotagem.
Não há postos de combustíveis ao longo dos 215 quilometros desta
rodovia. Então, como tradicionalmente acontece, paramos no KM 100 para o
reabastecimento das motocicletas com a "gasolina alternativa" vendida a
R$ 2,50/litro por moradores da pequena vila que se formou no entroncamento da BR 174 com a RR 203 que segue para o município de
Amajari.
Já citado em posts anteriormente, a gasolina da Venezuela quando
abastecida no posto da fronteira, custa aos brasileiros cerca de oitenta
centavos por litro. A partir de Santa Elena, passa a custar cerca de três centavos de real por litro.
Aos venezuelanos ela é comercializada a três centavos de real por litro,
facilitando assim o descaminho para o Brasil onde motoristas
brasileiros adaptam tanques maiores em seus veículos, principalmente
carros de baixo valor comercial. Já vi abastecimento de quase 400 litros
em uma Pampa, enquanto esperava para abastecer na Venezuela.
Verdadeiros carros bombas, é comum encontrar carcaças destes veículos destruídas pelo fogo ao longo desta rodovia. Do mesmo modo, é grande o
número destes veículos apreendidos pela Receita e Policia Rodoviária
Federal.
Depois do reabastecimento, seguimos rumo norte e entramos da Reserva Indígena São Marcos que se estende até a fronteira do Brasil com a
Venezuela
Antes de Pacaraima, começa a serra e parte da rodovia foi destruída por
deslizamento há dois anos, tendo pequeno trecho em apenas uma pista. Não
há previsão de quando será reconstruida e todo cuidado é pouco pois ao
lado tem um precipício de quase duzentos metros.
Chegando em Paracaima, tratamos de tirar as fotografias na frente da prefeitura.
Distante 215 km de Boa Vista, o município de Pacaraima situa-se na fronteira com a Venezuela.
Acessível somente pela BR 174, são duas horas e meia de viagem em razão
condições da rodovia, principalmente nos últimos 50 km, na subida da
serra.
O município encontra-se às margens da rodovia BR-174, na fronteira com a
Venezuela, sendo o primeiro ponto de visita para quem entra pela
rodovia no Brasil pela região norte.
Criado em 1995 tem vegetação de savana e limita-se ao norte com a
Venezuela; ao sul com Boa Vista e Amajarí; a leste com Normandia e
Uiramutã e a oeste com o município de Amajarí. O gentílico é
pacaraimense.
As etnias de maior predominância na região são os Macuxi, Wapixana e
Taurepang, onde a Prefeitura Municipal mantém exposição permanente com
material artesanal da cultura desses índios.
Pacaraima está inserido na Reserva Indígena de São Marcos e Raposa Serra
do Sol, na primeira encontra a Pedra Pintada, no Vale do Parimé, uma
pedra com 60m de diâmetro, por 30 a 40m de altura. Seu mural com
inscrições de arte rupestre, ainda hoje não decifradas, retoma os
primórdios do homem caribenho. Na região, também, se encontram os
cavalos selvagens de Roraima, no Lavrado do Maruai, tidos como os
últimos grandes selvagens da terra.
A economia da cidade baseia-se no comércio e agricultura de pequena
escala uma vez que está encravada dentro da área de reserva indígena e
sem muita opção de crescimento geográfico. A cidade foi construida
literalmente na fronteira e os marcos divisórios são visíveis por toda a
cidade.
Claro que quem vêm a Pacaraima, geralmente o faz, em razão da
possibilidade de compras na vizinha cidade de Santa Elena de Uairén, 15
quilometros à frente, dentro da Venezuela.
Apesar da política econômica implementada pelo presidente Hugo Chavez,
ainda há muita coisas com preços atraentes, principalmente bebidas como
cerveja e uísque. O câmbio hoje é de nove bolivares fortes por um real.
Mesmo aceita no Mercosul, a Venezuela ainda não está totalmente
integrada, fato que obriga aos visitantes a tomar algumas precauções em
relação à documentação.
Para ir além de Santa Elena, ainda se exige o “nada consta” do veículo
que pode ser tirado no Detran em Boa Vista e custa cerca de R$ 26,00.
Outra obrigatoriedade é fazer o seguro do veículo, que no caso de
motocicletas custa algo em torno de noventa reais na Mapfre de Santa
Elena, valendo por um ano. Não se exige o passaporte para o piloto,
contudo, caronas e garupeiras devem portar o documento e cópias.
Em Pacaraima deve-se dar a saída no passaporte e no Seniat da Venezuela,
um quilometro depois, dar a entrada do veículo e das pessoas.
O Seniat emite um “permisso” temporário para trafegar no país, documento
que deve ser apresentado sempre que solicitado pela Guarda Nacional.
Ao deixar da Venezuela, não se esqueçam de dar a saída, inclusive do
veículo, sob pena multa pesada quando por ventura regressarem.
Aproveitamos para almoçar em uma churrascaria de brasileiros, compramos
algumas coisas “para não perder a viagem” e iniciamos a volta Boa Vista.
Contudo, após cerca de 60 km percorridos, a motocicleta HD do José
apresentou problemas (de novo) e praticamente tivemos que nos "arrastar"
até o KM 100 com velocidade máxima de 30km/h.
Detectado que o problema da Switchback era embreagem, não restou outra
alternativa se não embarcar a moto em uma camionete e seguir para Boa Vista, onde chegamos as 21 horas.
Cumpro assim mais uma etapa do VFC Roraima.
Nota:
Durante a madrugada fomos surpreendidos pela notícia de que um amigo
(Hernandes Gomes, o "Dinho"), empresário boa vistense fôra assassinado
durante tentativa de assalto na Venezuela. Dinho era um grande
incentivador do motociclismo em Roraima e figura sempre presente nas
confraternizações semanais do Roraima Moto Clube.
Dinho passou o Carnaval com a família e amigos na Ilha de Margarita e
voltava para Boa Vista, quando parou seu veículo em lugar ermo (para
fazer xixi) na auto pista entre Anaco e El Tigre, e quando já estava
dentro do carro, foi abordado por um assaltante. Assustado, acelerou o
veículo e foi atingido no pescoço por projetil, vindo a falecer
imediatamente, deixando os amigos e a população de Roraima, consternada e
revoltada com o fato.
Aos amigos motociclistas que se aventuram por estradas venezuelanas,
fica um alerta: o trecho entre Porto La Cruz e El Tigre é considerado
muito perigoso e nunca deve ser percorrido à noite. Se possivel, é
aconselhavel viagem em grupo pois já ouve outros assaltos naquela
região.
Registro assim nosso pesar com o passamento deste amigo.
10º/15 - 24/02/2013 - Boa Vista - Bonfim - Lethem (Guiana) - Boa Vista (260 km ida e volta)
BONFIM
Durante a semana tinha programado fazer outro roteiro. Contudo,
compromissos profissionais me "seguraram" em Boa Vista e tendo somente o
domingo, resolvi fazer um trecho com menor quilometragem.
Combinei com alguns colegas que sairíamos no domingo as 09h. Porém, na
noite do sábado choveu muito (apesar de não ser época) e isso assustou
alguns "coxinhas" que tem medo de se molhar na estrada (eu avisei que ia
postar isso ehehehe).
Mesmo assim, o Paulo, o Torquato e a Marinês e o Cristiano (filho do Torquato e da Marinês) estavam a postos.
Partimos pela BR 401 debaixo de uma garoa insistente.
http://goo.gl/maps/cqaI2
Logo depois de cruzar a Ponte dos Macuxis parou a chuva e pudemos aumentar a velocidade.
Nesta região a paisagem é composta pelo lavrado (espécie de savana) e de
vez em quando cortada pelos buritizais nas margens dos igarapés.
Buritis, palmeira típica da região em foto de Tiago Orihuela
Chegando no km 85 a motocicleta do Paulo começou a falhar e logo
"morreu". Apesar das tentativas, tivemos que voltar 2 km para deixar a
moto e o Paulo em um bar. Lá chegando, por sorte, um amigo do Paulo, que
regressava de Bonfim, estava parado tomando café. Se prontificou a
levar a moto em sua camionete. Então carregamos, nos despedimos e
seguimos viagem.
Chegamos ao entroncamento da BR 401 que segue para Normandia, distante 80
km. O local confunde o viajante pois a BR 401 segue para Normandia,
diante 80 km e sem asfalto a partir deste ponto, e que será encarada em
breve, pois Normandia será o último município a ser visitado no
desafio FC. Continuamos seguindo para Bonfim.
A passar na frente da cidade, decidimos seguir direto para a Guiana pois
era domingo e queríamos fazer algumas compras antes do comércio fechar
as 14h.
Aduana brasileira na fronteira com a Guiana
Aduana guianense
Vindo a Bonfim, não tem como deixar de dar uma “esticadinha” até
Lethem, pequena cidade na Guiana que tem como principal economia o
comércio de produtos de origem, digamos, duvidosa em relação aos
verdadeiros fabricantes.
Aqui, camisas pólo de marcas famosas são vendidas a preços que variam de
dez a vinte reais. Do mesmo modo, tênis e outras produtos “de marca”
tem preços muito acessíveis.
A moeda local, o dólar guianense, tem seu câmbio equivalente a 100
dólares por um real mas, praticamente todo comércio é feito na moeda
brasileira.
Neste país, em 1966, ocorreu a Revolução de Independência contra a
Inglaterra, apoiada pela União Soviética, que também fora chamada de
“revolução guianense”. Com a expulsão dos ingleses pela maioria negra, a
nova nação passa a denominar-se República Cooperativista da Guiana, com
forte influência do governo de Moscou.
Com isso, ocasionou o aumento da emigração para o Brasil, provocando uma
explosão demográfica em Bonfim, o que resultou em mudanças na sua
estrutura socioeconômica. Com a influência externa na Guiana
deslocando-se de Londres para Moscou, terminou o intercâmbio comercial
com Lethem.
Como era colônia inglesa até poucos anos, há que se tomar cuidado, pois
aqui se adota a chamada “mão inglesa”, ou seja, o deslocamento de
veículos é pela pista da esquerda. Para quem está habituado com o padrão
brasileiro, a principio é um choque: a todo momento parece que estamos
dirigindo na contramão. É hilário observar motoristas brasileiros que
cruzam a fronteira pela primeira vez. Por sorte, o trânsito de veículos é
pequeno nas ruas empoeiradas de Lethem.
De Boa Vista até Bonfim não há postos de combustível na estrada. Com a
pequena autonomia das motocicletas, o jeito é abastecer em Lethem, onde a
gasolina custa R$ 2,50/L. Então, full up!
A Guiana guarda em sua memória, o triste episódio, quando o “missionário”
norte americano Jim Jones, que fundou no país em 1974 uma colônia
religiosa chamada Jonestown, induziu quase mil pessoas ao suicídio
coletivo, fazendo-os ingerir suco de uva envenenado em 1978. Este
maluco viveu em Belo Horizonte e Rio de Janeiro entre 1961 e 1965.
A partir daqui, são 580 km até Georgetown, capital da Guiana, onde
somente 130 km tem asfalto. Se não quiserem encarar a estrada, eis o
endereço e telefone de quem pode levar a moto em cima de uma camionete
até lá.
Até pouco tempo a travessia entre os dois países eram feito por balsa sobre o Rio Tacutu.
Com a construção da ponte há dois anos, a mudança de mão, ou de pista,
como queiram, é feita em uma espécie de viaduto, onde você sai da ponte
no lado guianense, passa sobre o viaduto e já está na mão esquerda. Ao
regressar ao Brasil, o procedimento é o oposto.
Depois de comprar algumas coisas, voltamos para visitar Bonfim.
Entrada do município de Bonfim
Bonfim surgiu no século passado e o primeiro morador a fixar-se próximo
ao que hoje é a sede do Município, foi o baiano Manoel Luiz Silva que
deu o nome à localidade em homenagem ao padroeiro de sua terra natal, o
Senhor do Bonfim.
A História da colonização do Município teve épicos de aventura e
pioneirismo, mostrados através de suas fases históricas: expansão
agrícola, fomentação do comércio, abertura de estradas, revolução
guianense e a catequização de índios.
No começo do século XX com a criação da primeira fazenda de gado,
pertencente ao ex-militar Vicente da Silva, que serviu no Forte São
Joaquim, surgiu o primeiro ciclo econômico, o agrícola. Ainda hoje os
seus descendentes vivem na região desenvolvendo a pecuária.
De 1910 a 1960, houve desenvolvimento nos empreendimentos agropecuários,
com o surgimento de várias outras fazendas de gado. Assim, surgiram os
primeiros núcleos de comércio, que também abasteciam parte da então
Guiana Inglesa.
Bonfim, criado em 1982 tem cerca de 11 mil habitantes e também tem
terras indígenas onde habitam os povos Wapixana e Macuxi. Sua atividade
econômica baseia-se na agricultura e pecuária.
Apesar de ser Área de Livre Comércio, a atividade comercial é incipiente.
Ao chegarmos na Prefeitura, nova decepção. O prédio está sendo reformado e a placa foi retirada.
Conversamos com pessoas que estavam trabalhando na pintura da agencia do
Banco do Brasil, anexo da prefeitura e não tivemos como registrar a
foto da placa pois o prédio estava fechado. Então, serve a foto da fachada.
Depois das fotos decidimos almoçar em Bonfim e retornamos a nossa bela
Boa Vista, onde chegamos no fim da tarde, com este belo por do sol, tendo cumprido mais uma etapa
do Valente FC - Roraima.
11º/15 - Dia 02/03/2013 - Boa Vista - São Luiz do Anauá
Imagino que dado grau de dificuldade deste trecho, principalmente para
motos custom, ninguém aceitou fazer a viagem comigo. Então, tive que
partir sozinho.
Sai de Boa Vista as 10h pela BR 174 rumo ao sul passando pelos municípios de Mucajai, Iracema e Caracarai (já visitados anteriormente).
A partir de Caracarai, são mais 140 km até o chamado KM 500,
entroncamento que a direita segue para Rorainópolis e Manaus e, em linha
reta, me levará até São Luiz do Anauá. Até o KM 500 a rodovia está em
boas condições, tendo apenas um trecho de três quilometros que ainda não
recebeu asfalto.
A partir do 500, apesar de uma empresa de pavimentação estar trabalhando
na BR 210, são 54 km até São Luiz do Anauá, percurso onde o asfalto
praticamente não existe, o que para minha Boulevard foi um castigo.
Diversas pontes de madeira exigem ainda mais atenção.
A velocidade média era baixa pois havia pequenas "ilhas" onde o asfalto aparecia e logo depois sumia por longos quilometros.
Uma hora depois cheguei a São Luiz do Anauá e a prefeitura foi facilmente localizada pois está na entrada da cidade.
Entrada do município de São Luiz
Para atender ao projeto de ocupação e integração da Amazônia Legal ao
resto do país, implementado pelos governos militares através da expansão
das fronteiras agrícolas nacionais, foi criado em 1º de julho de 1982 .
O nome (São Luiz) é em homenagem à capital do Maranhão, devido grande
número de pessoas provenientes daquele Estado e (Anauá) devido ao principal rio do município.
Rio Anauá
No período de 1990, ocorreu a criação de novos municípios no Estado de
Roraima e São Luiz cedeu parte de seu território para a constituição do
Município de Rorainópolis, antiga Vila do INCRA. As Vilas Moderna,
Martins Pereira, Nova Colina, Equador, Jundiá e Santa Maria do Boiaçu,
também faziam parte da constituição do município de São Luiz. Com a
emancipação de Rorainópolis, São Luiz permaneceu somente com a vila
Moderna como núcleo populacional importante no seu interior.
Sua vegetação é caracterizada por floresta tropical úmida e de
transição. A bacia hidrográfica é formada pelo rio Anauá e seus
afluentes. Também se localiza neste município parte da reserva indígena
Waimiri-Atroari e às margens do rio Anauá encontra-se o grupo étnico
Wai-Wai.
O município está localizado ao Sudeste do Estado, limitando-se ao norte
com Caracaraí; ao sul e a oeste com Rorainópolis; a leste com São João
da Baliza. Sua distância da capital Boa Vista é de 312,9 km. O gentílico
é São-luizense.
No atrativo turístico está o Turismo de Aventura, em especial pela
presença de serras e do rio Anauá pelas suas corredeiras. Destacam-se
como atrativos: A Serra Moderna, local apropriada para turismo de
aventura e trilhas ecológicas.
Com cerca de 7 mil habitantes, este município tem sua economia baseada na agricultura e na pecuária.
Cena muito comum ao longo desta rodovia.
Plantação de palmeiras para extração do dendê.
12º/15 - 02/03/2013 - São João da Baliza
Neste trecho o grau de dificuldades na pilotagem aumentou. Praticamente
não há mais asfalto. A pista agora é composta de terra, buracos,
ondulações tipo costelas de vaca e mais buracos.Coitada da Boulevard.
Vou ter que reapertar todos os parafusos quando voltar.
BR 210 (se é que se pode chamar de BR)
O pouco do asfalto que existe está sendo arrancado para dar lugar ao novo que, pelo ritmo das obras, não será neste ano.
A velocidade média é de 30km/h e demorei quase uma hora para chegar a São João da Baliza.
A região de São João da Baliza começou a receber colonos do Sul e do
Nordeste do Brasil, com a abertura da BR-210 (Perimetral Norte), na
década de 80, que em seu traçado "no papel" ligaria Roraima ao Pará.
Trinta anos depois, somente 200 km foram executados e o Pará ainda está
muito longe de ser alcançado.
O município foi criado em 1º de julho de 1982 e tem a origem do nome
relacionada com a construção da estrada, pois relata que um dos
pioneiros perdeu uma baliza (haste pintada em faixas alternadas brancas e
vermelhas, usada em agrimensura para demarcar alinhamentos) do serviço
de topografia em um igarapé, onde hoje está localizada a sede municipal,
daí o nome, combinado com o do santo padroeiro.
Em termos territoriais, além da sede, várias outras povoações e
localidades foram agregadas e desmembradas do Município de Caracaraí ao
longo da rodovia RR-210.
Dentro do município está uma parte da reserva indígena Wai-Wai.
São João da Baliza esta localizado a Sudeste do Estado, limita-se ao
norte com Caracaraí, ao sul com o Estado do Amazonas; a leste com
Caroebe e a oeste com São Luiz do Anauá e Rorainópolis.
http://goo.gl/maps/INZ6y
Durante o reabastecimento, pedi informações sobre a localização da
prefeitura. O frentista me orientou e cheguei ao local para as
fotografias de praxe.
Como esta prefeitura também não tinha placa de identificação, fui tirar fotos na biblioteca logo a frente.
Enquanto fotografava, pedi a uma gentil senhora porque a prefeitura não
tinha a tradicional placa e ela me disse que o prédio atual vinha sendo
ocupado pois o prédio da prefeitura "tinha pegado fogo" uma semana antes
da troca de prefeitos na gestão passada.
Como ela se propôs a me levar ao antigo prédio, eis a foto do local.
Hora de partir ainda pela BR 210 rumo ao município do Caroebe.
13º/15 - 02/03/2013 - Caroebe
Apesar de pouco mais de 17 quilometros entre as duas cidades, continuam
as dificuldades. Muitas pontes, muitos buracos e alguns sustos.
O pequeno município com pouco mais de 8 mil habitantes, concentra muitos
moradores do sul do país, que trabalham na pecuária e agricultura,
principalmente no plantio de banana.
Entrada da cidade
O Município de Caroebe surgiu através do desmembramento de terras do
Município de São João da Baliza, em 1994. Neste município está
localizada a pequena Hidrelétrica de Jatapu, fornecedora de energia
elétrica para as vilas e cidades do sul do Estado. O município é
composto por florestas densas, onde vivem algumas populações indígenas,
como as etnias Wai-Wai, na terra indígena Trombeta/Mapuera.
Confesso que não sei o nome disso
De difícil acesso pela esburacada BR 210, também conhecida como
perimetral norte, é o principal produtor de bananas do estado. De lá,
grande parte do produto é transportado até Manaus.
O município está localizado a sudeste do Estado, limita-se ao norte com o
município de Caracaraí e a República Cooperativista da Guiana; ao sul
com o Estado do Amazonas; a leste com o Estado do Pará e a oeste com os
municípios de São João da Baliza e Caracaraí.
Mais quebrado que arroz de terceira, cheguei até a prefeitura. Parece
que todos os prefeitos resolveram reformar o prédio da prefeitura
justamente no período que estou fazendo o VFC. Como, em sua maioria,
nada de placa.
Para salvar, na frente da prefeitura, tem esta singela casa.
Também tem a rodoviária.
A BR 210 segue até a comunidade de Entre Rios, onde se localiza a pequena Usina de Jatapu.
É hora de voltar até o entroncamento da BR 210 com BR 174 e sofrer mais
100 quilometros na péssima estrada. No horizonte, nuvens pesadas indicam
chuva pela frente.
E, como tem Fazedor de Chuva na estrada, ela (a chuva) veio mesmo.
Dias antes, uma ponte de madeira cedeu na saída de São João da Baliza,
e um desvio com nova ponte de madeira foi construido. Na ida para o
Caroebe passei por ele sem problemas.
Com a chuva, olha só o que me esperava pela frente.
Ao reabastecer, fui informado que para não enfrentar a volta até o
entroncamento das duas rodovias, havia outra opção que seria tomar a
Vicinal 26 que me levaria até Rorainópolis, meu próximo destino. Me
disseram que o trecho tinha 50 km com "apenas" 15 deles sem asfalto.
Anexo 12955
Considerei a ser a melhor opção e fui em frente. Os primeiros 10 km
eram de asfalto novinho, que maravilha. A alegria não durou muito e
outra vez dei de cara com uma estrada de piçarra, com muita pedra solta
pelo caminho.
Andei, andei, passei dos tais 15 km e nada de asfalto. Ele só reapareceu
12 km depois, ou seja, não eram 15 e sim 27 km de terra. Felizmente
ainda restava um pouquinho de luz do dia quando cheguei ao trecho
asfaltado.
A partir dali, eu não sabia quantos quilometros ainda faltavam para a BR 174.
Mesmo com chuva, e quase 50 km depois cheguei a Vila de Nova Colina para
então tomar a BR 174 sentido norte para 40 quilometros depois, chegar a Rorainópolis as
20h30min para o pernoite.
14º/15 - 03/03/2013 - Rorainópolis
Este é segundo maior município de Roraima. Se localiza na BR 174 a 300 km de Boa Vista e 460 de Manaus.
Pernoitei no Hotel Paraná e ao acordar, que novidade, chuva!!
Centro da cidade
Tomei o café e me preparei para a viagem. Ainda faltavam as fotos na
frente da prefeitura. Adivinhem.... o prédio também estava sendo
reformado.
Até que tá ficando bonitinha e tirei outras fotos nas proximidades.
Através de uma porta envidraçada, consegui uma foto da placa fixada na
parede.
Hoje com 25 mil habitantes, o município de Rorainópolis é originário de
uma vila de assentamento do INCRA (Instituto de Colonização e Reforma
Agrária) e é o portal de entrada pela BR-174, sentido Manaus/Boa Vista.
Foi transformado em município em 1995, em consequência das terras
desmembradas do Município de São Luiz.
O município limita-se ao norte e a oeste com Caracaraí; ao sul com o
Estado do Amazonas; a leste com São Luiz e São João da Baliza.
O Gentílico é Rorainopolitano e o atrativo turístico está no Turismo
Aventura, com inúmeras praias e corredeiras nos rios próximos,
favorecendo a prática de canoagem e pesca esportiva com destaque para o
Tucunaré. Em Santa Maria do Boiaçu, pequena vila no meio da selva
amazônica, apresenta ilhas e arquipélagos e está a 210 km do município
de Rorainópolis sendo o acesso possível somente via fluvial ou aérea.
O marco visível da Linha do Equador se encontra neste município, onde o
vestígio de uma grande magia toca o imaginário de quem o visita. “O
caminho do Sol é o Turismo-Reflexão, aonde as pessoas procuram cada
momento, a posição correta do sentido da vida, ecoando uma reflexão de
suas almas ecológicas”(pensamento dos Rorainopolitanos).
A economia do município gira em torno da pecuária, da extração de madeira e em menor escala da agricultura.
Depois das fotos tradicionais, tomei a BR 174, debaixo de muita chuva
para regressar a Boa Vista quatro horas depois, cumprindo assim a
penúltima etapa do VFC Roraima.
15ª/15 – 22/06/2013 - Boa Vista – Normandia (380 km ida e volta)
Hoje é um dia muito especial.
Especial, por completar hoje, oito anos morando em Roraima.
Especial também por estar cumprindo o desafio de visitar sobre duas
rodas todos os municípios de Roraima, onde Normandia é o último deles.
Também é especial porque, em plena estação chuvosa, a chuva deu uma
trégua nos últimos dois dias o que me permitirá fazer a viagem, mesmo
com minha motocicleta custom.
http://goo.gl/maps/tO4gt
Decidi ir sozinho a Normandia. Entre ida e volta, são cerca de 218 km de asfalto e outros 162 de terra.
Logo cedo tomei a BR 401 e cheguei ao entroncamento por volta das 10
horas. Seguindo a direita, pelo asfalto, 15 km depois se chega ao
município de Bonfim e consequentemente à fronteira com a Guiana. A
esquerda, a BR 401 segue até Normandia sem asfalto, então, daqui para
frente, vou comer muita poeira nos próximos 80 km.
A estrada sem asfalto é uma reta plana e sem fim onde a paisagem é
monótona, composta por grandes áreas de savana, aqui conhecida como
lavrado.
Diferente dos outros municípios, não há uma única ponte de madeira. Na
cabeceira do Rio Tacutu, parte do aterro cedeu pela ação das chuvas e o
acesso à ponte teve que ser interditado parcialmente.
Depois de três horas de muita poeira e buracos, cheguei à cidade.
O Município é privilegiado por sua localização estratégica, pois também faz fronteira com a Guiana separadas pelo Rio Maú.
Normandia recebeu este nome em homenagem à região de Normandie, na
França, terra do famoso fugitivo Papillon (quem não se lembra do filme
com o mesmo nome?).
Condenado na França, Papillon foi mandado para uma prisão de segurança máxima em uma ilha na Guiana Francesa.
Entretanto, após fuga espetacular da Ilha do Diabo, na Guiana Francesa,
graças às correntes marítimas, os fugitivos vieram parar na costa da
América do Sul. Muitos não conseguiram sobreviver à fuga. Entre os
sobreviventes estava René de Belbenoit, o Papillon e Maurice Habert.
Estes sobreviventes caminharam por terra firme e chegaram ao local hoje
conhecido como Normandia. Papillon continuou sua fuga e Maurice Habert
estabeleceu residência no local, tornando-se o fundador do Município.
Mais tarde Papillon escreveu o livro “Fugindo da Ilha do Diabo” que deu
origem ao filme. Outro livro com o titulo Papillon foi escrito por Henri
Charriére.
O livro “Pappillon, o homem que enganou o mundo” escrito recentemente pelo roraimense Platão Arantes (WWW.agbook.com.br)
afirma que René de Belbenoit, o verdadeiro escritor de Pappillon
narrou a fuga de nove prisioneiros. Contudo, Henri Charriére, o falso
escritor, cita a fuga de apenas um, ou seja, ele mesmo.
Laudos da Policia Federal comprovaram em exames realizados, que os ossos
encontrados na região do Surumú, em Roraima, eram realmente de
Belbenoit. Isso levou a Revista Veja a dedicar várias páginas ao tema em
sua edição 1870 de fevereiro de 2005.
Até hoje há uma polêmica muito grande na região pois afirma-se que
Pappillon morreu e foi enterrado ali próximo, enquanto Charriére chegou
aos EUA, onde teria assumido a identidade de Pappillon, tendo inclusive
escrito um livro sobre a fuga.
Polêmica à parte, nesta região encontra-se parte da controvertida Terra
Indígena Raposa Serra do Sol, abrangendo uma área total de 6.913 km2, o
que corresponde ao total de terras do município em 98,65%, e a população
indígena é de apenas 4.422 habitantes (49 aldeias), equivalente a 73,0 %
da população total do Município, segundo a FUNASA.
A população é composta basicamente por índios Macuxi e Wapixana, além
de migrantes oriundos de outras regiões do país, principalmente,
nordestinos, atraídos por oportunidades na área agrícola e também nos
garimpos de ouro e diamantes.
O município foi criado em 1° de julho de 1982 e está distante da capital em 185 quilômetros com acesso pela BR 401.
A economia de Normandia baseia-se na agricultura e na pecuária e sofreu
impacto muito grande quando, por decisão do STF, todos os produtores
de arroz que não eram indígenas, foram retirados à força da área onde
hoje é a TIRSS, ou Terra Indígena Raposa Serra do Sol.
Prontas as fotos em frente da Prefeitura, é hora de voltar cerca de 10
km e tomar a estrada à direita para sete quilometros depois, chegar ao
Lago Caracaranã, principal ponto turístico da cidade, com uma extensão
de 5,8 Km e uma profundidade de 2 a 5 metros, praias de areias brancas,
águas azuis, ideal para a prática de Windsurf. Apesar de estar dentro da
Reserva Indígena Raposa Serra do Sol o acesso geralmente é permitido,
mediante pagamento do ingresso O lago Caracaranã
é uma paisagem tipicamente roraimense, rodeado por cajueiros no meio do
extenso lavrado.
Na entrada, fui informado por uma indígena que não estão permitindo o
acesso, pois estão fazendo algumas melhorias e em breve haverá troca da
liderança na comunidade, razão pela qual a área só reabrirá em novembro.
Nem fotografar o local foi possível.
Já sabia que percorrer esta estrada com uma moto custom seria penoso,
para mim e para ela. Na motocicleta, os prejuízos são visíveis: um pisca traseiro quebrado, a haste que sustentava as bandeiras ficou em algum
lugar da estrada, vários parafusos perdidos e outros afrouxados pela
trepidação constante. Em mim, depois da adrenalina cessar, apareceu as
dores nos braços, costas, pernas. Nada que não fosse o esperado,
portanto, nada a reclamar.
Finalizo assim esta jornada de 3.300 km pelos 15 municípios de Roraima.
OLÁ SOU DE RORAINÓPOLIS E ME EMOCIONEI EM VER ESSE TRABALHO BRILHANTE QUE FIZESTE! PARABÉNS
ResponderExcluirMoro no PI e fizemos esse percurso de carro muito bom passeio,
ResponderExcluirentramos para as vicinais também.
Boa sorte pra você e sua motocicleta
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